Dia de Rosalia

És professor ou professora de Português e não sabes bem como encaixar estes conteúdos na tua programação? Tenho-me por uma militante da causa rosaliana e, portanto, vou dar umas dicas.

Neste pôster deixo algumas conexões da obra de Rosalia com a de Camões, para além de diálogos poéticos de Teixeira de Pascoaes ou Cecília Meireles. Podem fazer uma leitura de poemas ou literatura comparada, ou bem, trabalhar com este cartaz uma compreensão escrita.

Embora

Vamos desvendar as nuances e origem da palavra Embora. Na língua portuguesa Embora pode ser ora um advérbio, uma conjunção concessiva ou uma interjeição. A origem deste termo está na contração de uma antiga expressão “em boa hora” e, aos poucos, foi derivando nestes diferentes usos.

  • No contexto que mais podemos ouvir a forma adverbial é na expressão IR EMBORA. Ir embora é o contrário de ficar. Significa partir, despedir-se, sair de um lugar.

Ele decidiu ir embora depois do fim da festa.

Ela queria ficar mais um pouco, mas acabou sendo convencida a ir embora.

  • É muito usual que num contexto coloquial ouçamos Embora, ‘Bora, ‘Vambora ou mesmo `Bora . Estas formas todas, as contraídas também, são usadas como interjeição para incitar alguém a fazer algo ou bem para mandá-lo partir.

Está um dia de sol, ‘bora lá para a praia.

  • Para explicar o uso desta conjunção concessiva, primeiro teremos que explicar o que é a concessão num contexto sintáctico. A concessão é uma ideia contrária ou uma restrição em relação à oração principal. O significado de Embora neste caso é igual ao de Ainda que, Conquanto, Se bem que… Portanto, Embora introduz uma oração subordinada concessiva que expressa uma circunstância que contrasta com a informação apresentada na oração principal. Por exemplo:

Embora estivesse cansada, ela continuou a trabalhar.

O mais importante que temos que saber sobre Embora como conjunção é que ela sempre pede o MODO CONJUNTIVO (Presente ou Imperfeito) depois.

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Eu sabia que era um desafio, embora tivesse a esperança de que as coisas melhorassem.

As minhas canções favoritas de Portugal na Eurovisão

Estava em pulgas por ver a atuação da Mimicat no palco da Eurovisão e confesso que a portuguesa deu tudo o que tinha e o que não tinha. Foi fantástica e espero bem vê-la dar o seu melhor neste sábado. Estou a falar do quê? da Eurovisão! Eurofãs do mundo todo estão com muitos nervos para verem as melhores performances.

Decidi então fazer uma lista com as minhas músicas favoritas que Portugal levou. Podem vê-la neste Genially que explicarei mais logo.

Cada música tem uma pequena história por trás. Suponho que esta minha seleção é um bocado uma homenagem a um país que nem sempre foi valorizado no meio de tanto néon e atrezzo.

Maro: Saudade, Saudade. A melodia que Portugal propôs no ano passado tinha a beleza do singelo, do simples. Confesso que no Festival da Canção eu torci pelos Pongo e Tristany, mas acho que a Maro fez uma performance muito boa.

Com letra em português e inglês contava com um refrão com a palavra mais exportada da língua portuguesa: saudade.

Salvador Sobral: Amar pelos dois. Aquilo foi…partir a loiça. Ainda estou com a pele arrepiada e cara de surpresa. A personalidade do cantor e toda a reivindicação nos colóquios de imprensa que ele fez continua sem ser superada.

Carlos Paião: Playback. Uma canção que critica a realidade dos espetáculos ao vivo tem de ser, obviamente, um imprescindível. O vídeo tem que se lhe diga só pelo visual do Carlos e dos dançarinos.

Eduardo Nascimento: O Vento Mudou. A voz do Eduardo Nascimento é dessas que uma pessoa não esquece. Este cantor é muito importante na história do festival já que foi o primeiro representante de Portugal na Eurovisão e também a segunda pessoa negra a concorrer no certame. Isto tudo em período de ditadura, onde a representatividade era igual a zero.

Dulce Pontes: Lusitana Paixão. Contei isto uma data de vezes, mas se há uma canção que me aproximou do português, é esta. Cantei-a em criança e senti que aquilo era uma Whitney Houston que era capaz de perceber, mas com mais laca.

Flor-de-Lis: Todas as ruas do amor. Lembro-me perfeitamente de ver esta atuação e de ter gostado muito na altura daquela estética, que no instante identifiquei como muito portuguesa.

Paulo de Carvalho: E Depois do Adeus. Na Galiza toda a gente conhece o Grândola, mas faz falta é conhecerem a primeira parte do código radiofónico para a revolução começar. Em 1974 o Paulo de Carvalho concorria contra o Waterloo dos ABBA, mas outro fado estava reservado para esta canção.

Quem quer ganhar a Eurovisão quando o maior prémio pode ser ganhar uma revolução? Às 22h55 do 24 de abril de 1974 Emissores Associados de Lisboa passava esta melodia e o resto já é história. É mesmo.

Simone de Oliveira: Desfolhada. Cantou no ano 1969 a canção em Madrid e levou…4 pontos. Esta é sim uma dessas músicas que Europa não entendeu. O povo sentiu aquilo como uma injustiça e assim que a Simone chegou a Lisboa tudo correu a recebê-la.

A letra fala da desfolhada do trigo, e há sim muito erotismo aí. Conta-se uma tradição, a do “milho-rei”. O “milho-rei” é um grão de milho corado, quem encontrava aquilo podia dar um abraço a toda a gente da desfolhada e um beijo à pessoa de que gostasse.

Numa época de ditadura e cheia de tabus, a Desfolhada é uma ode aos sentidos e ao prazer. Foi mesmo polémico o verso de “quem faz um filho, fá-lo por gosto”. Como curiosidade, a Laura Valenzuela cheia de pudor não conseguiu dizer o título e traduziu-o para espanhol.

A Simone é uma senhora da canção. Ponto final.

Lúcia Moniz: O meu coração não tem cor. Se a cara da Lúcia não te é estranha, é porque talvez a tenhas visto em Love Actually a interpretar o papel da Aurélia. Lúcia teve o melhor resultado de Portugal na altura, só superado por Amar pelos Dois.

Doce: Bem bom. Toda a gente tem o dever de conhecer as Doce e é por isso que na RTPlay há uma série que conta a história delas. Uma girlband portuguesa de sucesso. Bem Bom é um hino em Portugal. As coreografias e o visual delas é material para uma thread de Twitter.

Madalena Iglesias. Ele e Ela. Pronto, uma galego-descendente a representar Portugal na Eurovisão. Já falamos dela neste artigo.

Conan Osíris: Telemóveis. Uma aposta muito arriscada de Portugal que correu a mesma sorte que a Desfolhada: a incompreensão. Ele não passou para a final infelizmente.

A Eurovisão é sempre imprevisível. Há sempre um espaço para a surpresa. E eu tenho um palpite com a Mimicat.

Dicas para viajares a Portugal

Este domingo passado parti com algumas estudantes da minha escola em viagem de estudos. Algumas eram alunas de português, mas a maioria delas não era.

Quis preparar esta viagem e fazer uma espécie de know how que ajudasse a perceber certas questões culturais. O resultado é este documento que acho pode ser útil afinal para qualquer pessoa da Galiza que visita Portugal de tempos em tempos.

Ana Moura em Vigo

Há quanto tempo que não ouvem um álbum de uma ponta a outra? Eu confesso que há montes de anos que não faço isso, mas estou a ver em Instagram e TikTok muitos post e re-post sobre o último disco da Ana Moura. Parece mesmo que a fadista veio para arrasar com este seu último trabalho. E é que entre todas as faixas da fadista, podemos encontrar não apenas fado, mas também fandango malhão, kizomba ou semba, numa tentativa de “devolver à África” tudo que a África tem dado às raízes do fado.

Ana Moura apresenta no Paço de Congressos de Vigo Casa Guilhermina, um título de disco que recolhe o nome da avó dela, uma espécie de tributo à família e à tradição. O concerto será no dia 24 do corrente mês no Auditório do Mar do Paço de Congressos às 21h. Em entrevista nas manhãs da M80 em Portugal comenta um bocado como foi o processo criativo e como está a funcionar o disco nos palcos. Vejam!

Ainda podem arranjar os bilhetes em https://www.teuticket.com/es/ver/ana-moura-suseia-et-ultreia-todos-os-pobos,-linguas-e-tribos

Malassadas

Hoje é terça-feira gorda de Carnaval, por isso quero-vos trazer uma das sobremesas típicas destas datas. Pronto, típicas do Portugal insular! Desapertem os cintos e desabotoem os botões que tiverem, porque chegam as malassadas!

O melhor disto não são os Pokémon ou o Havaí…o melhor é experimentarem!

9 palavras chegadas do México

Como é costume sempre que parto em viagem, deixo um artigo sobre o conteúdo do meu próximo destino. Será uma viagem longa, com um oceano para atravessar e a conexão lusófona que vejo é esta que vos trago.

Na língua portuguesa há muitas palavras de origem indígena de povos mesoamericanos. Desde os primeiros contactos dos habitantes originários com os europeus, algumas palavras que designavam novas realidades para estes últimos foram penetrando na língua espanhola e hoje são um património completamente universalizado.

Muitos desses termos vêm da língua nauatle, língua habitual dos astecas e idioma falado por mais de um milhão e meio de pessoas no México. Atualmente é das línguas originárias americanas mais bem documentadas e estudadas.

Deixo-vos com esta música antes de aprontar a minha mochila.

O que a Galiza deu ao Brasil: pessoas galegas na História Brasileira

Os encantos e desencantos da Galiza e Portugal são conhecidos de todos. Há uns anos fiz um post sobre personalidades galegas que marcaram muito a história portuguesa e não queria deixar passar a ocasião de fazer o mesmo com o Brasil. É certo que temos um oceano inteiro que nos separa e, portanto, a distância não está do nosso lado, mas ainda vos quero mostrar alguns exemplos da presença galega no Brasil.

Antes de mais, uma pergunta no ar. Qual foi um dos primeiros instrumentos musicais europeus em chegar ao Brasil?

“E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles (os indígenas), tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita.”

Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, 1500

Uma gaita de foles! Dessa é que não estavam à espera! A família Luques leva anos a fabricá-las e a continuar uma tradição musical lá.

Começo então a apresentar algumas pessoas. Não se esqueçam de carregar nos botões para verem a interatividade de cada apresentação:

  1. Nélida Piñon. A escritora tem as suas origens em Cotobade.

2. Drauzio Varella é um vulto quanto à divulgação médica no Brasil. Está em várias redes sociais e com certeza alguma vez leste alguma frase dele sobre o discurso anti-vacinas e as pseudociências.

3. Caramuru, o pai da brasileiridade, terá origens galegas? Ou é só galego por ter pele clara e cabelos claros?

Em muitas regiões do país entende-se por galego uma pessoa com umas características físicas determinadas: alguém branco de olhos e cabelos claros. Isto tem uma justificação histórica, porque os galegos emigraram principalmente para a região de Salvador, onde a maioria da população é negra, como comenta cá o Diego Bernal.

O dia em que o Brasil comemora a sua independência pode ser um momento ótimo para focar os nossos interesses no país com mais falantes de português do mundo. Aproximadamente a extensão do Brasil é equiparável a umas 293 Galizas, portanto, não devemos esquecer que a cultura brasileira é também muito diversa.

Quem quiser saber mais sobre as relações Galiza-Brasil pode começar por esta documentação:

E não podemos esquecer estes dois livros imprescindíveis do Diego Bernal que estão na Através Editora:

Jornada de Cultura Brasileira na Corunha

Para comemorar o dia da independência do Brasil, 7 de setembro, na Corunha haverá umas jornadas que recolherão diferentes manifestações culturais deste país gigante.

A professora Carla Nepomuceno fará uma visão panorâmica que nos ajudará a ter uma ideia mais concreta sobre a cultura brasileira. Bianca dos Santos, também professora, introduzirá o tema da literatura de cordel e as suas conexões com a Galiza. Para encerrar o ato, teremos a intervenção do também professor Manuel Miragaia.

No Círculo de Artesãos na Corunha podem fazer de um oceano que nos separa, um pequeno riacho. Não percam!