Estava em pulgas por ver a atuação da Mimicat no palco da Eurovisão e confesso que a portuguesa deu tudo o que tinha e o que não tinha. Foi fantástica e espero bem vê-la dar o seu melhor neste sábado. Estou a falar do quê? da Eurovisão! Eurofãs do mundo todo estão com muitos nervos para verem as melhores performances.
Decidi então fazer uma lista com as minhas músicas favoritas que Portugal levou. Podem vê-la neste Genially que explicarei mais logo.
Cada música tem uma pequena história por trás. Suponho que esta minha seleção é um bocado uma homenagem a um país que nem sempre foi valorizado no meio de tanto néon e atrezzo.
–Maro: Saudade, Saudade. A melodia que Portugal propôs no ano passado tinha a beleza do singelo, do simples. Confesso que no Festival da Canção eu torci pelos Pongo e Tristany, mas acho que a Maro fez uma performance muito boa.
Com letra em português e inglês contava com um refrão com a palavra mais exportada da língua portuguesa: saudade.
–Salvador Sobral: Amar pelos dois. Aquilo foi…partir a loiça. Ainda estou com a pele arrepiada e cara de surpresa. A personalidade do cantor e toda a reivindicação nos colóquios de imprensa que ele fez continua sem ser superada.
–Carlos Paião: Playback. Uma canção que critica a realidade dos espetáculos ao vivo tem de ser, obviamente, um imprescindível. O vídeo tem que se lhe diga só pelo visual do Carlos e dos dançarinos.
–Eduardo Nascimento: O Vento Mudou. A voz do Eduardo Nascimento é dessas que uma pessoa não esquece. Este cantor é muito importante na história do festival já que foi o primeiro representante de Portugal na Eurovisão e também a segunda pessoa negra a concorrer no certame. Isto tudo em período de ditadura, onde a representatividade era igual a zero.
–Dulce Pontes: Lusitana Paixão. Contei isto uma data de vezes, mas se há uma canção que me aproximou do português, é esta. Cantei-a em criança e senti que aquilo era uma Whitney Houston que era capaz de perceber, mas com mais laca.
–Flor-de-Lis: Todas as ruas do amor. Lembro-me perfeitamente de ver esta atuação e de ter gostado muito na altura daquela estética, que no instante identifiquei como muito portuguesa.
–Paulo de Carvalho: E Depois do Adeus. Na Galiza toda a gente conhece o Grândola, mas faz falta é conhecerem a primeira parte do código radiofónico para a revolução começar. Em 1974 o Paulo de Carvalho concorria contra o Waterloo dos ABBA, mas outro fado estava reservado para esta canção.
Quem quer ganhar a Eurovisão quando o maior prémio pode ser ganhar uma revolução? Às 22h55 do 24 de abril de 1974 Emissores Associados de Lisboa passava esta melodia e o resto já é história. É mesmo.
–Simone de Oliveira: Desfolhada. Cantou no ano 1969 a canção em Madrid e levou…4 pontos. Esta é sim uma dessas músicas que Europa não entendeu. O povo sentiu aquilo como uma injustiça e assim que a Simone chegou a Lisboa tudo correu a recebê-la.
A letra fala da desfolhada do trigo, e há sim muito erotismo aí. Conta-se uma tradição, a do “milho-rei”. O “milho-rei” é um grão de milho corado, quem encontrava aquilo podia dar um abraço a toda a gente da desfolhada e um beijo à pessoa de que gostasse.
Numa época de ditadura e cheia de tabus, a Desfolhada é uma ode aos sentidos e ao prazer. Foi mesmo polémico o verso de “quem faz um filho, fá-lo por gosto”. Como curiosidade, a Laura Valenzuela cheia de pudor não conseguiu dizer o título e traduziu-o para espanhol.
A Simone é uma senhora da canção. Ponto final.
–Lúcia Moniz: O meu coração não tem cor. Se a cara da Lúcia não te é estranha, é porque talvez a tenhas visto em Love Actually a interpretar o papel da Aurélia. Lúcia teve o melhor resultado de Portugal na altura, só superado por Amar pelos Dois.
–Doce: Bem bom. Toda a gente tem o dever de conhecer as Doce e é por isso que na RTPlay há uma série que conta a história delas. Uma girlband portuguesa de sucesso. Bem Bom é um hino em Portugal. As coreografias e o visual delas é material para uma thread de Twitter.
–Madalena Iglesias. Ele e Ela. Pronto, uma galego-descendente a representar Portugal na Eurovisão. Já falamos dela neste artigo.
–Conan Osíris: Telemóveis. Uma aposta muito arriscada de Portugal que correu a mesma sorte que a Desfolhada: a incompreensão. Ele não passou para a final infelizmente.
A Eurovisão é sempre imprevisível. Há sempre um espaço para a surpresa. E eu tenho um palpite com a Mimicat.