Ana Moura em Vigo

Há quanto tempo que não ouvem um álbum de uma ponta a outra? Eu confesso que há montes de anos que não faço isso, mas estou a ver em Instagram e TikTok muitos post e re-post sobre o último disco da Ana Moura. Parece mesmo que a fadista veio para arrasar com este seu último trabalho. E é que entre todas as faixas da fadista, podemos encontrar não apenas fado, mas também fandango malhão, kizomba ou semba, numa tentativa de “devolver à África” tudo que a África tem dado às raízes do fado.

Ana Moura apresenta no Paço de Congressos de Vigo Casa Guilhermina, um título de disco que recolhe o nome da avó dela, uma espécie de tributo à família e à tradição. O concerto será no dia 24 do corrente mês no Auditório do Mar do Paço de Congressos às 21h. Em entrevista nas manhãs da M80 em Portugal comenta um bocado como foi o processo criativo e como está a funcionar o disco nos palcos. Vejam!

Ainda podem arranjar os bilhetes em https://www.teuticket.com/es/ver/ana-moura-suseia-et-ultreia-todos-os-pobos,-linguas-e-tribos

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Malassadas

Hoje é terça-feira gorda de Carnaval, por isso quero-vos trazer uma das sobremesas típicas destas datas. Pronto, típicas do Portugal insular! Desapertem os cintos e desabotoem os botões que tiverem, porque chegam as malassadas!

O melhor disto não são os Pokémon ou o Havaí…o melhor é experimentarem!

9 palavras chegadas do México

Como é costume sempre que parto em viagem, deixo um artigo sobre o conteúdo do meu próximo destino. Será uma viagem longa, com um oceano para atravessar e a conexão lusófona que vejo é esta que vos trago.

Na língua portuguesa há muitas palavras de origem indígena de povos mesoamericanos. Desde os primeiros contactos dos habitantes originários com os europeus, algumas palavras que designavam novas realidades para estes últimos foram penetrando na língua espanhola e hoje são um património completamente universalizado.

Muitos desses termos vêm da língua nauatle, língua habitual dos astecas e idioma falado por mais de um milhão e meio de pessoas no México. Atualmente é das línguas originárias americanas mais bem documentadas e estudadas.

Deixo-vos com esta música antes de aprontar a minha mochila.

O que a Galiza deu ao Brasil: pessoas galegas na História Brasileira

Os encantos e desencantos da Galiza e Portugal são conhecidos de todos. Há uns anos fiz um post sobre personalidades galegas que marcaram muito a história portuguesa e não queria deixar passar a ocasião de fazer o mesmo com o Brasil. É certo que temos um oceano inteiro que nos separa e, portanto, a distância não está do nosso lado, mas ainda vos quero mostrar alguns exemplos da presença galega no Brasil.

Antes de mais, uma pergunta no ar. Qual foi um dos primeiros instrumentos musicais europeus em chegar ao Brasil?

“E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se a dançar com eles (os indígenas), tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita.”

Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, 1500

Uma gaita de foles! Dessa é que não estavam à espera! A família Luques leva anos a fabricá-las e a continuar uma tradição musical lá.

Começo então a apresentar algumas pessoas. Não se esqueçam de carregar nos botões para verem a interatividade de cada apresentação:

  1. Nélida Piñon. A escritora tem as suas origens em Cotobade.

2. Drauzio Varella é um vulto quanto à divulgação médica no Brasil. Está em várias redes sociais e com certeza alguma vez leste alguma frase dele sobre o discurso anti-vacinas e as pseudociências.

3. Caramuru, o pai da brasileiridade, terá origens galegas? Ou é só galego por ter pele clara e cabelos claros?

Em muitas regiões do país entende-se por galego uma pessoa com umas características físicas determinadas: alguém branco de olhos e cabelos claros. Isto tem uma justificação histórica, porque os galegos emigraram principalmente para a região de Salvador, onde a maioria da população é negra, como comenta cá o Diego Bernal.

O dia em que o Brasil comemora a sua independência pode ser um momento ótimo para focar os nossos interesses no país com mais falantes de português do mundo. Aproximadamente a extensão do Brasil é equiparável a umas 293 Galizas, portanto, não devemos esquecer que a cultura brasileira é também muito diversa.

Quem quiser saber mais sobre as relações Galiza-Brasil pode começar por esta documentação:

E não podemos esquecer estes dois livros imprescindíveis do Diego Bernal que estão na Através Editora:

Jornada de Cultura Brasileira na Corunha

Para comemorar o dia da independência do Brasil, 7 de setembro, na Corunha haverá umas jornadas que recolherão diferentes manifestações culturais deste país gigante.

A professora Carla Nepomuceno fará uma visão panorâmica que nos ajudará a ter uma ideia mais concreta sobre a cultura brasileira. Bianca dos Santos, também professora, introduzirá o tema da literatura de cordel e as suas conexões com a Galiza. Para encerrar o ato, teremos a intervenção do também professor Manuel Miragaia.

No Círculo de Artesãos na Corunha podem fazer de um oceano que nos separa, um pequeno riacho. Não percam!

Capicua no Barbeira Season Fest

Não é segredo nenhum que sou fã da Capicua. Espalho esta informação sempre que puder e por tudo quanto é lugar.

Rapper, mãe, feminista, ambientalista e uma das ganhadoras do Aritmar, a Capicua vem agora de editar em agosto um livro com uma seleção de textos que ainda faz com que goste mais dela. Nas palavras da artista “Aquário é uma moldura, um recorte ou, se quisermos, uma janela para os mares interiores de Capicua“. Há uns dias mandei vir pela Wook, evidentemente. Não vejo a hora de ter o Aquário nas mãos.

Eu gosto muito de todo o universo referencial da Capicua: o mar e a essência da mulher nortenha. Isto pode ser adivinhado em Sereia Louca e é assente e ampliado em Madrepérola. Não digo isto por dar graxa, mas foi graças a ela que (re)descobri Eva Rapdiva, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner, Mísia, Karol Conka, Blaya, Aline Frazão, Lena d’Água ou Jojô. Não é só que agora eu conheça mais mulheres que fazem coisas, é que agora conheço também melhor essas mulheres.

No dia 3 estará no Barbeira Season Fest, em Baiona. Oxalá depois deste convite venham muitos mais e possamos vê-la mais frequentemente a pisar os nossos palcos. A música lusófona é variada e temos que na Galiza também saber disso com exemplos como este.

Façam barulho aí!

A felicidade através de onze músicas

Começo com uma declaração. Esclareço que é uma opinião minha, aviso. Acho que a felicidade não é um sentimento muito galego-português, a nossa praia é sermos saudosos e é por isso que somos conhecidos no mundo fora. Contudo, neste mês tenho recebido notícias muito boas. Alegrias de pessoas amigas que senti quase como êxitos meus e até um regresso ao trabalho que assumo com muito otimismo.

Hoje é 1 de setembro, o primeiro dia do ano para muitas pessoas que, como eu, se dedicam à docência. Há quem ache que este é um dia difícil, porque contém muitos desafios. Para afugentar essa má onda, lá vão umas músicas que de uma maneira ou outra falam da felicidade.

Podem ver os vídeos um por um ou simplesmente ouvirem a seleção no botão do Spotify. Cá em baixo explico cada canção.

  • Hélder, O Rei do Kuduro: Felicidade. O pioneiro do kuduro em Portugal tem esta música contagiante. Já vos disse muitas vezes que o kuduro não foi inventado por Dom Omar, é um ritmo tipicamente angolano, que hoje ultrapassou fronteiras. A felicidade é dançar esta música e aprender algumas palavras como maka.
  • Seu Jorge: Felicidade. Coloquei a versão com o Alexandre Pires, porque gostei mais do vídeo. O Seu Jorge tem no seu disco Músicas para churrasco, vol I e II, esta letra tão linda sobre este sentimento, definido em pequenas porções e momentos de alegria. Ainda não sei bem como o Seu Jorge não é um deus na Galiza tendo um disco que se chama Músicas para churrasco. Preciso explicações.
  • Tom Jobim, Vinícius, Toquinho e Miúcha: A Felicidade. Esta canção do Tom Jobim e o Vinícius de Moraes foi interpretada por inúmeros artistas ao longo da história da música. Tristeza não tem fim, felicidade sim é a descrição melhor feita da nossa maneira de estar no mundo.
  • Natiruts: Quero ser feliz também. O reggae brasileiro tem nos Natiruts uma boa representação. Se o reggae é a música da felicidade, esta letra não fica atrás. Toda a gente quer navegar nas águas desse mar.
  • Ceumar: Feliz e triste. Penso que é uma das letras que melhor definem o carácter galego-português. Uma felicidade que não é completa, a felicidade das coisas pequenas, a felicidade com a tristeza também presente.
  • MTM: Só sei ser feliz assim. MTM significa Marco, Tóny e Música. Isto já prometia coisas. Só sei ser feliz assim foi a canção de Portugal em 2001 na Eurovisão. Obtiveram um posto 17, não foi um resultado muito feliz, mas eu gostava da música.
  • Marisa Monte: Feliz, alegre e forte. Este é um canto ao verdadeiramente importante. Na voz da Marisa Monte tudo soa bem positivo e calminho.
  • Rony Fuego. Bem disposto. É dessas canções que há que ouvir logo que acordamos de manhã. Recarrega energias e ajuda a encarar o dia com outra disposição. Enfim, sorriso no rosto sempre que aparecer no meu Spotify.
  • Aleh Ferreira: Sou do bem. Tive o meu primeiro contacto com esta canção através de um CD da minha adorada coleção de music world Putumayo. E lembro-me de estar a reproduzi-la sempre em modo repeat, porque me dava muita felicidade ouvi-la.
  • Inês de Vasconcellos: Estou bem. Foi a descoberta deste ano para mim. Que música tão contagiante e que vídeo tão cuidado. Talvez isto me reconcilie com o fado. A letra fala de estar sozinha e ser feliz, uma mensagem que devíamos espalhar mais.
  • Ferrugem: Eu sou feliz assim. Um classicão desses de amor, onde alguém não sabe viver sem a pessoa amada cuja companhia identifica com a felicidade. Não é uma baladona, ainda se pode dançar.

Espero que gostem desta seleção. E se tiverem alguma música mágica dessas de atrair felicidade, digam!

Fado Bicha no Festival Agrocuir

Acho que muitas pessoas da Galiza ficaram a saber de Fado Bicha pela participação que tiveram este ano no Festival da Canção com Povo pequenino. Se o António Variações afirmava que tinha criado um som especial e único, uma fusão entre Braga e Nova York, hoje vou fazer o atrevimento de dizer que Fado Bicha é a pedra basilar do fado queer.

Comecemos pelo nome. A palavra fado dispensa apresentações, mas bicha talvez precise de explicações demoradas. Bicha coloquialmente é um animal doméstico fêmea (gata, cadela…) e no calão português é pejorativamente uma palavra para dizer gay. Fado+Bicha remete para uma declaração de intenções e uma reapropriação de um termo. Tencionam criar um lugar de experimentação dentro de um género musical quase sagrado em Portugal. Com a sua criatividade ultrapassam barreiras de género (tão rígidas no fado tradicional) e encontram um espaço para novas narrativas.

Lila Fadista é a voz desta dupla e o João Caçador é guitarra e arranjos. Tenho lido e visto muitas entrevistas desta banda, acho que aprendo imenso sobre música e questões LGBTQIA+. Antes do Festival da Canção quis saber como é que era o processo criativo e fiquei a entender ainda mais que esta equipa é música e intervenção em simultâneo. Umas vezes resgatam fados pouco conhecidos ou já esquecidos, outras apanham fados muito canónicos e mudam a letra ou também pode ser que criem música a partir de poemas escritos por pessoas não heterossexuais.

Como prova do seu ativismo, podemos destacar que Fado Bicha pôs música à campanha do Livre nas legislativas de 2019 com a Joacine Katar Moreira como primeira candidata negra à Assembleia da República.

Fado Bicha vai marcar presença na 7ª edição do Festival Agrocuir da Ulhoa. Às 00h30 do dia 26 toda a gente fantasiada e a cantar em Monterroso o Namorico do André!

Lucibela em Ponte Vedra

Há uns dias anunciávamos a chegada da rainha do kuduro, Pongo, à Galiza para um par de concertos. Está na hora de atualizamos informação, porque recentemente soubemos que a artista suspendeu toda a digressão que tinha programada pela Europa. Assim sendo, não contaremos com ela no Festival Maré nem amanhã no Con Voz de Muller. Porém, este último evento de que falo quis manter o carácter lusófono na programação e a cantora cabo-verdiana Lucibela será quem esteja no lugar da Pongo. Passamos do kuduro à koladera, que é um ritmo também pouco conhecido na Galiza.

Sei que a posição em que está agora a Lucibela não deve ser fácil, mas conhece bem a casa que a acolhe porque já andou por Ponte Vedra no ano 2018.

A Lucibela é do Tarrafal e ser do Tarrafal não é qualquer coisa. Contudo, a família dela viveu em vários lugares do arquipélago cabo-verdiano. Mindelo, Santa Maria ou Praia são também lugares imprescindíveis para ela se tornar artista. Em 2016 muda para Lisboa e com isto chega ao público europeu, sem deixar de participar em eventos de world music de todo o arco atlântico. De facto, no Atlantic Music Expo da Cidade da Praia de 2017 sagrou-se como a artista revelação.

Em 2018 publicou Laço Umbilical sob o selo da Lusáfrica. Este título deixa transparecer uma intenção de nunca esquecer as suas origens. Em 2 de junho deste ano lançou Amdjer, onde se estreia como compositora. Este disco é dedicado a todas as mulheres cabo-verdianas, atrevo-me a dizer que é dedicado a todas as mulheres. O single Txe Txu Fla tem como refrão Txe Txu Fla Txim Fla , que significa uma coisa assim mais ou menos como “o que tu disseres, eu digo”.

Podem descobrir mais da Lucibela na web dela ou Spotify. Mas acho que o melhor que podem fazer é irem amanhã à Praça da Ferreria em Ponte Vedra e deixarem-se cativar por koladeras como estas.