Electra

São bons tempos para tragédias das boas. A Companhia do Chapitô trazia o seu Édipo a Ferrol em 2016 e agora voltam com outra peça trágica, Electra.  Sófocles, Eurípides e Ésquilo já deram a sua própria visão da filha da Clitemnestra e Agamemnon e os do Chapitô continuarão a alargar o mito, mas com um toque particular: em chave de comédia hilariante.

Durante a guerra de Tróia, o rei Agamemnon tenta libertar a Helena do seu cativério. As condições marítimas não eram assim muito favoráveis e pediu ajuda aos deuses. Foi-lhe dito que sacrificasse a sua filha mais nova, Ifigénia, para conseguir bons ventos. O sacrifício da menina causa a ira da Clitemnestra, que junto do seu amante, Egisto, planeja uma vingança.

Ao voltar o Agamemnon da guerra é morto pela Clitemnestra e o Egisto. A Electra, menina dos olhos do pai, quererá também vingar-se, por sua vez (recordem que não há uma verdadeira tragédia grega sem jorros de sangue). Electra e o seu irmão, Orestes, consumarão a vingança.

No dia 25, às 20h30 no Teatro Principal de Compostela poderemos ver se isto é que se trata de uma visão mais do Ésquilo ou do Eurípides.

 

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António e Cleópatra de Tiago Rodrigues

Começando fevereiro temos no Gaiás o festival Escenas do Cambio, um evento que normalmente une os melhores dançarinos e performistas das duas margens. Desta feita, o diretor e escritor português Tiago Rodrigues leva a palco à dupla de  coreógrafos Sofia Dias e Vítor Roriz com o espetáculo António e Cleópatra. Já conhecíamos o Tiago de anteriores edições deste festival, por causa da sua peça By Heart.

Tiago Rodrigues reescreve em forma de performance uma das tragédias amorosas históricas mais conhecidas, a do romance entre a rainha do Egito e o general Marco António, já escrita por Shakespeare.

Depois de ter triunfado em Avignon, Tiago Rodrigues traz esta peça a Compostela hoje às 20h30 no Gaiás.

Podem ver como é que foram os ensaios.

O dia em que a morte sambou

Chega o programa dos Galicreques, por melhor dizer, chegou. Não cheguei a tempo a anunciar os eventos de Compostela, mas ainda vou a tempo de vos dizer o que se vai passar na Corunha. Amanhã na Sala Gurugú às 18h30 poderão ver a peça brasileira de teatro infantil O dia em que a morte sambou.

O filho de Valéria e Habib explica tudo com muito jeito neste teaser.

Estão a ver então que O dia em que a morte sambou é também um livro que foi levado aos palcos pelos próprios autores: Habib, escritor e Valéria, artista plástica. Ansiosos em preservar a poética da obra original na encenação, escolheram a linguagem do teatro de bonecos de sombras, uma das formas mais antigas e belas de teatro de formas animadas.

Esta família é quase como aquela The Kelly Familiy da década de 90. Eles fazem tudo! A trilha sonora, que vai da música tradicional da Bretanha ao Maracatu de Baque Solto e Cavalo Marinho de Pernambuco, é executada ao vivo com violino e escaleta por Valéria, enquanto Habib manipula os bonecos, cujas sombras conversam, andam, brincam e dançam, não somente no cenário, mas também pelas paredes, chão e teto da sala.

E qual é o argumento? Seu Biu é um velhote que mora sozinho, canta, brinca, dança e está em sintonia com a natureza apesar das críticas que rebece. Um dia a morte vem por ele…mas será recebida de um modo inesperado.

Vamos?

 

Daniel Faria

daniel_faria_foto_augusto_baptistaNo marco do programa “Escenas do cambio” que decorre como cada ano nestas datas na cidade de Compostela, temos a peça “Daniel Faria”.

Esta obra é a segunda co-produção Galiza-Portugal do Centro Dramático Galego. O diretor de teatro Pablo Fidalgo, de Vigo, dá vida em palco ao monge e poeta português Daniel Faria. Numa entrevista recente, o realizador diz que esta não é exatamente uma peça biográfica sobre o autor “é sobre o modo em que uma vida pode afetar outras”, porque Daniel Faria tinha uma fé e uma ideia de partilha quase revolucionárias.

O poeta morreu com 28 anos. Tirou Teologia e licenciou-se em estudos portugueses. A sua foi uma dessas carreiras que a morte nos impediu de ver evoluir. Talvez possamos aprender um bocado mais da sua poesia graças a esta proposta cénica, o que acham?

Podem ver a peça desde amanhã até dia 28 no Salón Teatro.

O Conto do Inverno

invernoEspero que o Natal tenha sido mesmo bom e que o Pai Natal vos trouxesse muitas roupas para vos agasalhar. Igual que o frio, porque hoje, meus e minhas, está um frio de rachar, a peça de teatro de William Shakespeare O conto do inverno chega a Compostela nesta semana.

A crítica tem classificado como comédia a obra, mas esta é uma dessas peças teatrais que podem confundir os espetadores quanto ao género porque há também inúmeras doses de drama. Qual é o enredo? a história acontece entre Boêmia e a Sicília e nos três primeiros atos Leontes, rei da Sicília, que suspeita que o seu amigo de infância, Camillo, e a sua esposa, Hermione, estão a ter um caso.

Esta peça foi inúmeras vezes encenada e adaptada, mas é sempre bom revisitar os clássicos e mais se estes são interpretados em português por atores e atrizes galegos e portugueses. Teatro Oficina e o CDG fazem uma boa parceria.

Teatro Oficina junta, no mesmo palco, um fantástico elenco de atores e os músicos Manuel Fúria e os Náufragos atuam também, ao vivo, durante a peça.

No Salón Teatro os dias 12, 14 (20h30) e 15 (às 18h)

O contrabaixo

o contrabaixo 038A obra de Patrick Süskind chega à Galiza encenada pela companhia portuguesa Visões Úteis. Hoje na Casa das Crechas, às 21h, em Compostela poderão ver então O Contrabaixo.

Sei que estavam a pensar n‘O perfume, mas não, chega à nossa capital esta peça teatral monologada, a primeira obra do autor bávaro.

Deixo-vos aqui a sinopse que tirei da página da companhia: “Numa sala à prova de som, provavelmente o quarto onde vive, um contrabaixista de uma Orquestra Nacional decide contar como é vivida a sua solidão e confidenciar, com ironia amargurada, o seu amor não revelado por uma das sopranos da Ópera. Esta relação platónica encontra no próprio contrabaixo o seu maior obstáculo: instrumento arcaico, que melhor se ouve quanto mais nos afastarmos dele, de aparência hermafrodita, desajeitado e incómodo, o contrabaixo torna-se para este homem no maior empecilho à liberdade e ao amor.
Pelo discurso desta personagem isolada e frustrada, viajamos ainda pela História da música e dos músicos e encontramos uma crítica sagaz à sociedade contemporânea”

Afinem o seu instrumento e venham…

Ensaio sobre a cegueira…vai a palco

Chego um bocado atrasada, porque pelos vistos Ensaio sobre a cegueira leva já uns dias a fazer uma digressão pela Galiza. Mas mesmo assim não queria deixar passar a oportunidade de vos anunciar o evento.

Amanhã, pelas 18h30, no Câmpus de Vigo (Cuvi), em Vigo.

índiceA obra do escritor luso José Saramago foi adaptada ao teatro da mão de Sarabela.

Como sabem, a obra trata a história de uma epidemia de cegueira que ataca a população mundial. Uma cegueira de uma sociedade egocêntrica e violenta, uma «cegueira branca» que se expande de maneira fulminante num tempo-espaço universal. Os cegos terão que encarar aquilo que existe de primitivo na natureza humana: a vontade de sobreviver a qualquer preço num mundo guiado pelo desejo, a hipocrisia e guiados pela manipulação política e a dominação.

Ensaio sobre a cegueira provoca emoção no público pelo grande trabalho dos atores, pela intensidade dos diálogos e a conexão que se estabelece entre os personagens.

Já houve adaptações cinematográficas do romance, mas na Galiza vai ser a primeira adaptação teatral. Será que afinal a Galiza consegue ver Portugal?

O baile dos candeeiros em Ribadávia

20090707-231740aO baile dos candeeiros do Coletivo Radar 360º virá a ser encenado no dia 24 do corrente mês em Ribadávia. Esta peça portuguesa faz parte do programa da MIT Ribadávia.

Os ajuntamentos de pessoas são vistos hoje como uma ameaça para muitas pessoas da classe política. As coisas cada vez viram mais pretas e as liberdades individuais correm muitos riscos. É bom vermos esta peça porque nesta “desconfiança” radica o quid desta obra.

Em finais dos anos 60, fazia-se na Foz do Douro, no Porto, o baile dos cinco candeeiros. Esse encontro, que serve de inspiração para esta produção da Radar 360º, era um espaço de liberdade numa época em que os ajuntamentos populares eram encarados com desconfiança, mas era também um momento de dor, pois aí se faziam as despedidas dos soldados que iam lutar para a guerra colonial.

O diretor António Oliveira apanhou esta ideia e criou um espetáculo de rua que mistura música, dança clássica, contemporânea e teatro e assim faz do espaço público um lugar de celebração e de crítica contra o individualismo.

Em definitivo, vamos ver o quê? cinco candeeiros vintage a dançar espalhados por pontos estratégicos. Aos poucos, vamos estar mais envolvidos com esta dança e esse vai ser o nosso momento de libertação.

01h, na Praça Maior de Ribadávia.

Um belo dia

1-dulce-ducaAcredito muito no acaso. “Um belo dia” é isso que acontece depois de uma tormenta, depois da escuridão chega o sol e ilumina tudo, dando um novo sentido às coisas e alterando as nossas sensibilidades. É esse momento em que a vida explode.

“Um belo dia” chega ao concelho de Compostela literal e figuradamente. Cá entre nós, se viram o programa das festas deste ano, vocês já me entendem. Aquilo dá para fazer pelo menos cinco artigos no Lusopatia. Aposta nos bairros, na diversidade e no “glocal”. Nestas semanas vão encontrar artigos meus muitas vezes.

“Um belo dia” é uma dessas afirmações que qualquer um de nós poderia postar no Facebook ao pé de uma imagem com umas vistas estonteantes e paradisíacas. Agora imaginem essa imagem em movimento, com música…Esta é a minha metáfora sobre o espetáculo da portuguesa Dulce Duca, que mistura circo, malabares e dança. O domínio da técnica dos malabares é tal, que parece que ela faz malabares…sem malabares. Em palavras da própria Dulce “represento o ser humano e sou alto-falante daquilo que o faz sentir vivo: as emoções. Em plena liberdade criativa, dou vida aos sentimentos, emoções…ou por melhor dizer, elas é que me dão vida, personifico-as e transformam-me fisicamente”

Onde? São Martinho Pinário, Compostela. Quando? dia 18, às 21h30.

Título por determinar

Quando estudava grego na escola secundária, o nosso professor falou-nos de um clássico latino: A Eneida. Disse-nos que aquele livro era utilizado para a bibliomância. Uma pessoa pode abrir o livro por uma página qualquer e…pelos vistos…essa página (interpretada por alguém que sabe, um ou uma bibliomante) determina o seu futuro. Façam a prova lá em casa.

É curioso isto das superstições. Algumas culturas baseiam o horóscopo em coisas tão inacreditáveis como grupos sanguíneos, outras em datas de nascimento. Será que nascer um dia e não outro determina as nossas vidas?

Eu nasci a 17 de junho e sempre me considerei (e considero) um produto inacabado, em construção. Uma coisa por determinar.

salonteatro2Título por determinar é uma obra que vai ser encenada o dia do meu aniversário. O título é a minha cara.

O Centro Dramático Galego coordena a estreia no Salón Teatro em Compostela de um projeto organizado pelas companhias de teatro nacional de Portugal (Dona Maria II e São João) onde os protagonistas serão alunos e alunas de Vigo, Porto e Lisboa. O texto, ainda em fase de criação, é de José Maria Vieira Mendes e será levado a palco por Pedro Penim, ator e diretor.

Um programa aberto, em construção…define-me a mim e à cidade em que vivo.