Uma das músicas que, feliz ou infelizmente, mais ouvi neste verão foi Não me toca de Anselmo Ralph. Um pronome, uma oração negativa e um post. Agora é que me toca!
No galego-português, como norma geral o pronome coloca-se depois do verbo. A ordem habitual seria esta:
-eu levanto-me cedo
-e tu? Levantas-te cedo?
Vejam por exemplo o título desta música dos Xutos e Pontapés. Diz-me.
Nesta posição, os pronomes átonos costumam ir ligados ao verbo por um hífen. Verbo e pronome vão unidos e por vezes as formas tanto do pronome como do verbo podem ver-se alteradas com o contacto de um e outro.
Come o bolo> Come-o
Quero comer o bolo> Quero comê-lo
Elas comem o bolo> Elas comem-no
Contudo, na variante de português brasileiro isto não é bem assim. O poeta Oswald de Andrade escreveu este poema que retrata bastante bem a situação:
PRONOMINAIS
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
Na oralidade brasileira, o pronome vai antes do verbo. Reparem, por exemplo, nesta música da Clarice Falcão: Eu me lembro. No português europeu seria Eu lembro-me.
Nas minhas aulas não costumava explicar isto. Bastava com dizer: “isto é como no galego”, mas agora, infelizmente, cada vez conto menos com aquela bagagem como apoio, portanto, vamos lá com isto.
Vamos centrar-nos no caso do português europeu e quais são as normas da colocação do pronome. Quais seriam então as exceções à regra que diz que o pronome vai depois? vamos ver que palavras “atraem” o pronome para a posição anterior ao verbo.
–não me levanto cedo
–nunca se deita tarde
–também nos sentamos aqui
–se me disseres que vens, espero-te acordada
–como te chamas?
-como é que te chamas?
–já se levantaram?
–ainda não te vestiste?
–enquanto se penteia, faz planos para o resto do dia
–todos/as se lembram bem daquela viagem
–ninguém se desculpou com ele
Os pronomes consomem-vos?
Pronto, isto ainda tem que se lhe diga. Noutro post falar-vos-ei da mesóclise (que já agora acabei de escrever nesta última forma verbal)