Quem é dessas pessoas apaixonadas pelo cinema? quem quer dar mesmo o salto para a realização? se alguma das duas perguntas anteriores tiver resposta afirmativa, estão de parabéns. O relizador português Pedro Costa fará uma pequena digressão estival pela Galiza nestes dias.
Primeiro poderemos vê-lo em Compostela, na Sala Numax, nesta segunda às 18h. Lá partilhará espaço com a Barbara Ulrich e o Giorgio Passerone no ciclo A cor das palavras. Estejam atentos/as à lotação, que Numax não é muito grande.
No dia a seguir, e se quiserem estar ao fresco, podem ir até à Ribeira Sacra e participarem no workshop que propõe La Plantación. Seis dias de formação com um programa bastante integral que podem consultar nesta ligação
Entre os dias 4 e 8 do corrente mês decorre na cidade de Compostela a Mostra Internacional de Cinema Etnográfico (MICE), que já vai pela edição número 13. A quantidade de filmes e o programa também foram crescendo com o tempo, então temos vários lugares de projeção: Museu do Povo Galego, Teatro Principal e Sala Numax.
Na minha já costumeira análise de programas, selecionei aquelas obras com interesse lusopata.
No dia 5, na sala Numax, às 20h temos a visualização de Trás-os-montes, filme realizado por António Reis e Margarida Cordeiro na década de 70. Esta fita é fundamental no cinema português porque influenciou autores posteriores como o internacional Pedro Costa.
Trás-os-montes é um documentário ficcionado sobre a região homónima portuguesa. É uma das obras mais representativas do movimento do Novo Cinema e uma das primeiras docuficções portuguesas. São descritos no filme o folclore, a paisagem e a identidade desse cantinho geográfico, que remontam às raízes históricas ancestrais da tradição galaico-portuguesa.
Há pouco tempo que as pessoas têm acesso ao filme depois dos anos 70, porque esteve em restauro na Cinemateca Portuguesa do Museu do Cinema.
Se quiserem ver esta joia do cinema, têm de se despachar. A projeção tem entrada de graça até completar a lotação, mas os bilhetes têm de ser reservados exclusivamente na Numax e de maneira presencial a partir do dia 2.
No dia 6, dentro do conjunto de filmes que vão ser exibidos e vão a concurso, há uma coprodução galego-portuguesa: Palmira.
A autora da obra é a Diana Gonçalves, a alma mater do conceituado Mulheres da raia. A cineasta volta com uma peça com marcado protagonismo feminino como na sua fita anterior. Ela tinha a ideia de gravar durante quatro anos a Palmira, vizinha de Caldelas de Tui e conhecida até 2011 como a “avó da Galiza” pela sua longevidade. Mas a Palmira morreu no terceiro ano de gravação aos 108 anos e isto foi um grande desafio de montagem.
Palmira conta a vida desta mulher centenária longe das entrevistas televisivas. “Um corpo cansado, mas resistente”.
No Teatro Principal, às 20h30.
No dia 7 temos dois filmes a concurso, um brasileiro e uma coprodução Bélgica/Brasil. Comecemos por este último: We must be dreaming, de David Bert Joris Dher.
Fala dos caminhos e estradas que a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de Rio 2016 abriram no Brasil. O que significou para os moradores da cidade? Três anos e três histórias em busca de sonhos, vitórias e fair play.
No Museu do Povo Galego às 19h30.
O outro dos filmes é Deixa na Régua, realizado no Brasil pelo Emílio Domingos.
“Um corte de cabelo estiloso pode representar muita coisa. O dia a dia movimentado das barbearias da zona norte é retratado com leveza e graça, a partir de depoimentos dos jovens que as frequentam. Nas mãos dos babeiros Belo, Deivão e Edi, eles vão mostrar como esses estabelecimentos se tornam um espaço de sociabilidade e de debate sobre diversos assuntos.” O cabelo é neste caso uma construção narrativa, cada pessoa que vai ao barbeiro cria o seu discurso. Com efeito, podemos produzir cultura numa visita ao salão de beleza.
Depois de nos deixar obras como A vingança de uma mulher, Rita Azevedo volta ao cinema Numax para apresentar nesta sexta-feira às 19h30 o seu novo filme, Correspondências.
Correspondências é, por assim dizer, um filme epistolar. Dois vultos da cultura, Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner escrevem-se cartas por causa do exílio do primeiro. Este intercâmbio é um refúgio para os dois e um exercício de liberdade, mas na linguagem de Rita Azevedo Gomes é também uma estética e um possível diálogo com outras formas de comunicação como a música ou a fotografia.
No dia 3 às 12h, a Rita também estará na SELIC (Semana do Livro de Compostela) nuns colóquios com a poeta Maria do Cebreiro.
O festival Cineuropa leva 30 anos sendo o indiscutível protagonista do outono em Compostela. Eu não imagino outra imagem.
Este ano temos também um programa variado que podem consultar nesta ligação. Contudo, a presença de cinema lusófono é bem menor em comparação com anos anteriores. Para preparar o caminho digo-vos os filmes que vão passar em língua portuguesa.
Portugal – Um dia de cada vez é um documentário de João Canijo e Anabela Moreira. O filme percorre as regiões de Trás-os-Montes e o Alto Douro de lés a lés e mostra as paisagens, a arquitetura e as gentes de cada lugar. Será esse um mundo que pode chegar a desaparecer?
Quando? dia 9 às 21h; dia 12 às 22h15; dia 17 às 19h.
Aquarius de Kleber Mendonça Filho é um filme brasileiro e francês. A Clara mora num prédio que se chama Aquarius, no bairro da Boa Viagem. É uma melómana colecionadora de vinils. Até aqui tudo bem. Só que a Clara tem uma coisa especial: viaja no tempo. Uma espécie de Doctor Who/El Ministério del Tiempo com uma senhora reformada. Só pode dar em coisa boa.
Quando? dia 10 às 20h; dia 12 às 21h45; dia 13 às 20h15.
Um dia no Ilê é um documentário brasileiro de Guilherme César. A obra fala sobre a intolerância religiosa que padecem muitos adeptos de religiões afro-iorubas no Brasil, nomeadamente do candomblé.
Quando? dia 13 às 16h30; dia 24 às 18h30.
Viagem ao princípio do mundo de Manoel de Oliveira entra dentro desse ciclo de filmes doutros tempos e que faz também homenagem ao ator italiano Marcello Mastroiani.
Esta produção franco-portuguesa conta a história de um diretor português que contrata um ator francês. Durante a rodagem o ator lembra as suas origens também portuguesas, pois o pai dele era português. É, por assim dizer, um testamento cinematográfico de Marcello Mastroiani.
Quando? dia 15 às 19h.
O ornitólogo de João Pedro Rodrigues é uma coprodução de Portugal, França e Brasil. O que vos poderia eu dizer quanto às línguas usadas nesta longa? que para mim foi a surpresa do programa: português, inglês, mandarim, mirandês e latim! sim, leram bem. A longa-metragem deveria de ser chamada O filólogo 😉 Passe a ironia, o filme conta a história de um ornitólogo que investiga umas aves prestes a se extinguir em Trás-os-Montes.O filme já conta com um prémio à melhor direção no festival de Locarno.Quando? quinta 17, às 23h30; sexta 18 às 17h45 e domingo 20 às 23h.
Eldorado XXI é um documentário de Salomé Lamas de produção portuguesa. Fala-nos de uma comunidade de pessoas que habitam em condições extremas nas altitudes dos Andes peruanos.
Quando? dia 21, às 20h15; dia23 às 21h30.
A Salomé Lamas estará também a dar uma oficina no marco formativo “Ollos Verdes” do Numax no dia 21.
Sostiene Pereira (Afirma Pereira) de Roberto Faenza. Este é um filme muito, muito, muito conhecido de 1995. Trata-se da adaptação cinematográfica do romance homónimo do Antonio Tabucchi. É uma produçao italo-portuguesa e acho que foi o primeiro filme em que vi o Joaquim de Almeida, o ator português mais internacional.
Esta obra entra dentro de uma secção de homenagem a Marcello Mastroiani e está ambientado na ditadura portuguesa de Salazar, na vida de dois jornalistas e na sua relação.
A música é do grande Ennio Morricone e a voz é da Dulce Pontes. Penso que toda a gente conhece bem esta canção, pois é o tema principal do filme. Quanta força tem!
Quando? dia 24 às 19h.
Programem tudo no Google Calendar, ponham alarmes…mas não percam!!
A sala Numax dedica o mês de setembro ao cineasta português Pedro Costa. O realizador vem para apresentar o seu novo filme, Cavalo Dinheiro, e dar umas aulas no projeto Olhos Verdes e no Numax decidiram juntar o útil ao agradável e fazer um ciclo em volta dele: O Foco Pedro Costa.
O Foco Pedro Costa é composto pela estreia de Cavalo Dinheiro e três cópias revistas das seguintes fitas :
-Amanhã, às 21h30h: Casa de lava. Este filme é a primeira aproximação do Pedro Costa à comunidade cabo-verdiana de Lisboa. Conta a história de uma enfermeira que cuida um homem, Leão, que teve um acidente. Leão é deportado e isto faz com que a protagonista comece a questionar muitas coisas da sua própria vida.
-Quarta, às 21h30: No quarto da Vanda. Este foi o filme que fez espoletar internacionalmente a carreira do cineasta. Vanda Duarte vive nas Fontainhas, um dos bairros mais degradados e empobrecidos de Lisboa, onde impera o tráfico de drogas.
-Quinta, às 19h30: Juventude em Marcha. Ventura é um operário reformado de origem cabo-verdiana que vive na periferia de Lisboa. Recentemente abandonado pela sua mulher passa o tempo a deambular entre a casa onde morou 34 anos e o seu novo apartamento.
-Sexta e sábado, às 20h: Cavalo Dinheiro. Novamente temos a figura de Ventura como protagonista. Nos longos e silenciosos corredores de um hospital, avança a figura trémula de Ventura, possuído por um sono febril. Lembra o seu Cabo Verde natal, que abandonou na sua juventude para se ganhar a vida em Lisboa, onde, ao igual que os seus, viveu sempre na margem.
Vitalina, que viajou a Portugal para ir ao funeral do seu esposo. Numa conversa com o Ventura recorda um episódio da vida dele e a mente do cabo-verdiano começa quase que a viajar no tempo.
-Sábado, às 11h30. O realizador dará umas aulas no marco do projeto Olhos Verdes onde fará um percurso por toda a sua trajetória artística.
Mas a coisa não acaba aqui para a Rita Azevedo. No sábado às 11h30 vai dar uma oficina sobre cinema que leva por título “Cinema: luz feliz e maligna” e que está dentro do projeto “Os ollos verdes” da sala Numax. Este projeto visa pôr em contacto criadores de primeiro nível com o público para trocar experiências e visões. Rita Azevedo falará da luz e da cor no cinema.
A realizadora traz também uma série de livros que lhe serviram de inspiração e que farão parte o acervo da livraria Numax.
O festival “Curto-circuito” traz cada ano novas propostas estéticas que chegam de criadores e criadoras emergentes. Curta-metragens e concertos complementam-se bem, e noutros artigos falaremos da seleção musical que acompanha este evento.
Estejam atentos e atentas à programação de 6 a 11 de outubro, porque este evento e o Cineuropa fazem de Compostela uma cidade em ebulição.
Quanto às novidades deste ano, fiquem a saber que a sala Numax vai ser abrigo de muitas projeções e nós, que amamos a iniciativa, só podemos dizer parabéns e bem haja para a cooperativa!
Nas secções não competitivas do festival poderemos ver várias criações fílmicas. Vamos categoria por categoria, tintim por tintim.
-Púlsar: João Salaviza
Púlsar é uma nova secção do programa dedicada a espalhar a obra de autores emergentes que começam a se sagrar neste pequeno mundo. É a vez do João Salaviza. Filho de realizador e produtora portugueses, tinha que trabalhar também neste ramo, o fado assim o quis. Começou a ajudar em filmes de Manoel de Oliveira, conheceu logo o que é um tapete vermelho.
É um autor muito novo, mas com uma linha clara: bebe da tradição do cinema social europeu, mas a sua narrativa oferece uma visão muito particular das idades (a adolescência, nomeadamente) e os espaços: a eterna Lisboa. Temos cinco títulos deste cineasta para poder saborear, confiram no programa.
–Penínsulas
Com este nome já intuíamos que alguma produção portuguesa havia de haver, e há. Penínsulas é uma secção que faz uma panorâmica do cinema espanhol e português de temporada.
Na quinta dia 8, no Teatro Principal, pelas 17h podem ver estas criações:
Sobre El Cielo, de Jorge Quintela. Não encontrei muita informação sobre o filme, desculpem lá. Sei que a produção é portuguesa, mas não posso garantir que o idioma seja português. A sinopse? O passado é já a projeção do futuro. Contudo, nada mais é que uma luz no céu.
Amélia e Duarte, de Alice Guimarães e Mónica Silva.
Este filme conta a história de duas pessoas, Amélia e Duarte, e o processo de esquecimento, dor e perda depois de terminar a sua relação.
O filme é feito, fundamentalmente, em “stop-motion” e pixelação. Deixo-vos o teaser, que coisa mais fofaaaa!
Esta é a parte mais…malandra do festival. Desafios, sexo e diversão.
No Teatro Principal, na sexta dia 9, pelas 23h30 (hora malandra), podem ver a proposta lusopata desta parte do programa: um filme brasileiro de animação que se chama Oh Shit, de Marcelo Marão. O argumento? um homem francês leva a vida toda a comer metais. Comeu biclas, carrinhos, e partes de avião.
-O Som e a Fúria
Há um ciclo inteiro dedicado apenas a esta produtora portuguesa. O Som e a Fúria tem um dos catálogos mais prestigiosos da Europa, com montes de prémios que falam da qualidade das suas produções. Produziram obras de Manoel de Oliveira, Miguel Gomes, Sandro Aguilar, João Nicolau ou João Pedro Rodrigues. A produtora, que se estabeleceu em setembro de 1998, dedica-se exclusivamente à produção cinematográfica, visando criar um vínculo com o autor e o cinema independente.
7 filmes, distribuídos em dois dias de projeção estão ao nosso alcanço. Vejam aqui datas e horas.
Recomendamos vivamente, ou por melhor dizer, re-recomendamos, O Velho do Restelo, de Manoel de Oliveira. Luiz Vaz de Camões mete conversa com várias personagens e escritores portugueses e criam um debate muito interessante que caminha entre o passado e o presente, entre a glória e a derrota. Não percam!