As minhas recomendações para os dias 31 e 1

anos fazíamos um percurso pelas diferentes tradições entre os dias 31 de outubro e 1 de novembro. Até vos cheguei a falar dos meus pesadelos ortográficos mais repetidos. Desta feita só estou cá para para dar umas dicas de lazer: uma série, um podcast e umas pequenas viagens.

Vamos com a série. Typewriter foi para mim um achado. Estava à procura de uma série de poucos capítulos que pudesse devorar em duas tardes e lá estava ela, pacatamente, como quem não quer nada.

Typewriter é uma série de Netflix de apenas 5 capítulos. Foi realizada em 2019 e nela vão poder ouvir várias línguas. E agora estarão a pensar…”e esta maluca recomenda-nos uma série em híndi e inglês? como assim?” Tudo tem uma explicação, a série trata de três crianças que planejam caçar fantasmas num casarão onde há uma máquina de escrever. Disto o título. À partida parece uma coisa muito classicona, mas toda a ação decorre em Goa, no taluka de Bardez. Não se fala português, mas podem ouvir como o português ainda ecoa lá de certa maneira: nomes, topónimos, costumes, etc.

Além de culturalmente familiarizar-me com outro tipo de suspense e estética, mais típicas de Bollywood, penso que aprendi imensas coisas sobre a cultura indiana e goesa. E não, um faquir não é um homem que dorme num colchão com pregos ou engole lâmpadas.

Deixo cá o trailer. Não esqueçam que isto tem legendas em português disponíveis.

Agora é a vez do podcast.

O Vamos Todos Morrer é a rubrica do Hugo Van der Ding para a RTP/Antena 3. Penso que na plataforma da RTP têm mesmo todos os episódios, mas deixo também o Spotify para terem uma maior acessibilidade. Para telemóvel dá um jeitão.

Nunca pensei dedicar todas as manhãs a ouvir um réquiem, mas cá estou. Confesso-me viciada neste programa. Cada dia escolho um episódio e ouço porque eles são assim bem curtinhos, pílulas quase. Como o próprio título indica, uma coisa é clara: vamos todos morrer. Cada programa é uma nota necrológica onde com humor é contada a biografia de uma celebridade. No meio há uma dose de lugar comum que todo humano necessita: morreu tão novo, na flor da idade!

Os pontos fortes para quem está a treinar a língua são muitos:

  • aprender como é o nome português de certas celebridades, por exemplo: Joana D’Arc, Otaviano, Cleópatra…
  • conhecer muitas celebridades dos países de fala portuguesa: Anita Garibaldi, Ana Plácido, Bulhão Pato…
  • treinar expressões típicas da língua mais coloquial (e fúnebre também, claro!)

Quem não gostar muito deste formato, pode ainda comprar o livro na Wook.

É a vez das viagens. Este ano podem fazer a planificação de como querem passar os dias 31-1 de 2022. Eu recomendo três pequenas visitas.

  • Quinta das Lágrimas, em Coimbra. A lenda diz que cá foi morta Inês De Castro. As algas vermelhas que aparecem na Fonte das lágrimas são a evidência fantasmagórica de lá ter acontecido uma morte violenta. Hoje é quase um lugar de peregrinação mas a mim o que me meteu mais medo é que com a requalificação isto agora é um hotel de luxo.
    • Se não souberem quem é que foi a Inês De Castro, falo dela neste artigo, mas já digo que esta é uma fi-gu-ra-ça galega, uma rainha depois de morta. A nossa primeira zombi? Carreguem nas animações para estarem a par.
  • Capela dos Ossos, em Évora. “Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”. Uma capela que nos lembra que a vida é transitória e passa num triz. Em Évora havia muito cemitério monástico, aquilo ocupava muito espaço e…decidiram reciclar com este DIY.
  • Quinta das Conchas e dos Lilases, Lisboa. Se procurarem na net uma lista de lugares assombrados em Portugal, com certeza absoluta vai aparecer esta quinta. Em 1899 Francisco Mantero compra-a depois de ter feito muito dinheiro com o negócio do café em São Tomé e Príncipe.
    • No parque podemos ver uma construção apalaçada que é de espírito colonial. As duas ilhas artificiais que lá estão recriam São Tomé e Príncipe. Conta a lenda que o empresário se apaixonou por uma nativa santomense, há quem diga que era até a sua escrava. Trouxo-a a Lisboa àquela quinta e fechou-a para afastá-la dos olhares dos vizinhos. Maltratou-a até à loucura. Conta-se que ainda se ouvem os seus gritos e que os cães nunca querem aceder ao palacete.

Não sei como vão passar estes dias. Eu comecei por encarar um dos meus maiores medos: conduzir. Porque o importante é a maneira de conduzir a vida.

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Falso amigo: rato

Em muitas partes do mundo já estão com os preparativos do ano novo chinês. Vi nas notícias ontem que Lisboa começou a festa este sábado no bairro onde vive e e trabalha a maior parte desta comunidade.

Podem ver como correu o desfile nesta ligação. É interessante ouvirem os depoimentos dos vários membros da comunidade chinesa. Por Martim Moniz já sabem que 2020 é o ano do Rato, o primeiro no zodíaco chinês. Representa, portanto, o começo de um novo ciclo.

Para quem acreditar nestas coisas, deixo o horóscopo nesta ligação.

Estes animais aparecem inúmeras vezes na nossa cultura. Ocorrem-me agora provérbios como:

-A curiosidade matou o rato

-A casa que não tem gatos tem muitos ratos

-Tanta vez vai o rato ao moinho, que um dia fica lá com o focinho

Temos até ratos famosos como o Mickey ou Mighty Mouse, que são testemunho da importância que tem este animal na nossa cultura popular.

Já noutras latitudes, como por exemplo na Índia, existe uma veneração em volta deste animal. No templo de Mata Karni, na cidade de Bikaner, no Rajasthan, vivem mais de 25 mil ratos soltos.

Existem algumas curiosidades sobre estes pequenos seres que devem conhecer. Eu ainda estou em dúvidas com se a ratazana é a fêmea do rato ou é que é uma espécie diferente. Digam-me lá coisas.

O periférico do computador? sim, também se chama de rato. Contudo, cada vez usamos mais tecnologia táctil e estes acessórios são menos vistos.

Chegados a este ponto e depois de toda a maçada…acho que já devem saber o motivo do post. Ainda não? Pronto, o rato na nossa língua designa estas realidades de que falei. Não usamos a palavra para nos referir a intervalos de tempo breves. Nesse caso dizemos: instante, bocado, momento

O que a Galiza deu a Portugal: galegos e galegas na História portuguesa

Frequentemente revisitamos a literatura medieval galego-portuguesa como fonte indiscutível dos vínculos linguísticos e culturais entre a Galiza e Portugal. Há pouco foi editado pela AGAL um documentário, Pacto de Irmãos, que fala sobre a origem da língua escrita e como também a língua conforma uma sociedade.

Os contributos linguísticos são mais do que evidentes no que diz respeito ao título deste artigo, mas…já pensaram noutras áreas culturais? A verdade é que sempre tive muita curiosidade e há tempo que comecei a juntar uma série de nomes que conformam este post. Portanto, proponho-vos uma pequena viagem galega a várias fases da História de Portugal.

Como as explicações vão inseridas em animações, deverão levar na mala um bocado de “paciência digital”. Podem ampliar os diapositivos para uma melhor visualização. E toquem! toquem tudo para verem as informações extras! São viajantes desses com pulseira de pacote turístico completo.

Temos três roteiros diferentes: o dos galegos de gema, o literário e o da cultura popular. O primeiro deles é composto por pessoas nascidas na Galiza, os outros dois são percursos onde falaremos de descendentes de galegos.

OS GALEGOS DE GEMA

Na própria lenda do Galo de Barcelos aparece um galego como protagonista. É pena eu não ter nomes e apelidos, se tivesse, teria mesmo incluído nesta epígrafe, podem crer.

Aqui vou dar três nomes de galegos que marcaram profundamente a memória portuguesa. Com certeza, vocês conhecem.

  1. Inês de Castro. Acho que deve ser o primeiro e único caso de rainha morta-viva. Ela inspirou tanta literatura…

2. O Conde de Andeiro teve uma vida atribulada, cheia de aventuras e conspirações. É uma das figuras mais conhecidas (e odiadas) da história medieval.

A Câmara Municipal da Corunha tem, já agora, a sua vida esculpida nos cadeirais.

3. A nossa terceira paragem no roteiro dos galegos de gema é daquelas que precisam de um balde de pipocas. Diogo Alves é como uma cena de Futurama, uma cabeça metida em formol conservada hoje na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Considerado o primeiro serial killer da história portuguesa, o assassino do Aqueduto das Águas Livres era também galego. No “curiosidades” há um vídeo, um filme de cinema mudo. Tem que se lhe diga.

4. Na história das grandes navegações também estávamos presentes. João da Nova tem uma ilha deserta no Canal de Moçambique que recebe o seu nome. Acredita-se que também tenha “descoberto” o arquipélago de ilhas Agalega, no sudoeste do Oceano Índico.

O ROTEIRO LITERÁRIO

  1. Imaginem que vos digo que a figura totémica da literatura portuguesa tinha família galega. Imaginem! Não imaginem nada: é verdade. Luís Vaz de Camões era familiar de Vasco Pires de Camões, trovador com raízes em Finisterra.

Para aprendermos mais, também vos conto na mesma infografia a origem do ditado popular “vai chatear o Camões”. Conhecem?

2. E se vos dissesse que a segunda figura mais conhecida da literatura portuguesa também tem raízes galegas? Com efeito, Fernando Pessoa também é galego-descendente segundo o livro As raízes de Pessoa na Galiza do professor Carlos Quiroga.

Tanto Pessoa como Camões foram personagens fixos da série O Ministério do Tempo. Eu era fã e não sei o que foi feito dela.

3. Dentro do Orpheu há alguns poetas injustamente “esquecidos”. Um deles é Alfredo Guisado, com família em Mondariz e Ponte Areias. Este escritor é precursor do binormativismo, antes sequer de dizermos nada na AGAL. Uma ponte entre o republicanismo português e o agrarismo galego. Vejam logo.

4. José Rodrigues Miguéis é um escritor português filho de emigrantes galegos. Durante a ditadura exilou-se nos EUA por causa das suas ideias progressistas herdadas do seu pai.

A CULTURA POPULAR

Neste outro roteiro tocamos vários aspetos da cultura: a música, a política e o mundo empresarial.

Já falamos de como muitos galegos emigraram a Lisboa e qual foi o impacto cultural dessa leva. Os primeiros nomes deste roteiro alargam essa homenagem aos muitos empreendedores que modificaram a estrutura e vida social da cidade.

  1. Manuel Garcia Moreira e a Cervejaria da Trindade. Uma das cervejarias mais famosas do circuito lisboeta foi também um projeto galego.

2. Francisco Espinheira e a Ginjinha. Dispensam apresentações. A Ginjinha é o sabor de Lisboa e o Espinheira soube “fermentar” esta ideia.

3. Agapito Serra Fernandes foi um empresário galego do mundo da confeitaria. Ele projetou o Bairro da Estrela d’Ouro como residência para a sua família e empregados. O bairro tinha até um cinema, o primeiro a passar filmes sonoros em Portugal.

4. Ampliamos horizontes e falamos agora de um dos episódios mais famosos da história portuguesa: a Revolução dos Cravos. A Celeste Caeiro, “Celeste dos cravos”, foi a mulher que deu nome a uma revolução. A sua mãe era da Galiza.

5. A Madalena Iglésias fez história no mundo da canção. Não, não é família do Julio Iglesias. Teve uma carreira curta, mas foi a rainha das rádios e tvs portuguesas. Até venceu o festival da canção da RTP.

6. E já no último lugar, alguém que podem acompanhar nas redes sociais: Manuel Durán Clemente, um dos Capitães de Abril. Quando vos disserem que a Galiza só deu ao mundo exemplos de políticos de direita, pensem neste homem.

E cá termina a nossa viagem. Mas sabem que coisa? eu gosto é dos roteiros circulares, são os meus preferidos.

Agora só espero fazer num futuro próximo um artigo intitulado “O que Portugal deu à Galiza”. Conheçamo-nos melhor uns e outros para que assim seja.