É já um clássico e para nós é sempre uma magnífica notícia comprovar a continuidade que este festival tem ano após ano. Não deve ser fácil manter um festival assim nas condições em que está a ser tratada a cultura na Galiza. E o teatro de marionetas é a margem da margem…!
O Festival Internacional de Títeres de Redondela começa na próxima semana. Para abrir o calendário de eventos, há programação escolar durante os primeiros dias. Contudo, o bom do festival é que é para miúdos e graúdos. E…há peças dos países de língua portuguesa, claro. Cada ano Redondela faz uma aposta forte na lusofonia e aquilo deve dar bons frutos, porque sempre há companhias portuguesas e brasileiras no cartaz.
Este ano temos duas obras muito diferentes. Por um lado a tradição religiosa mais ancestral e por outro a modernidade conceptual e renovação estética. Vejam:
– Quinta, 28 de maio, às 21h no Auditório da Xunqueira:
“Bonecos do Santo Aleixo”, Centro Dramático de Évora (Portugal). +12 anos.
Este tipo de representação e bonecos tem uma origem rural e muito antiga. Existem registos da sua existência já no século XVIII, como nos diz Padre Joaquim da Rosa Espanca in “Memorias de Vila Viçosa”, onde refere terem sido apreendidos e mandados queimar títeres de Santo Aleixo, em 1798. Provavelmente teriam nascido na aldeia que lhes dá nome. Santo Aleixo é uma freguesia do concelho português de Monforte, no Alto Alentejo.
Pelo que vi nas informações do Museu da Marioneta, estas pequenas marionetas de varão atuam num pequeno retábulo e a iluminação é feita como antigamente, com candeias de azeite. Nem que seja por interesse puramente antropológico vale bem a pena ver esta encenação. O acompanhamento musical é feito por uma guitarra portuguesa.
O repertório compreende peças de tradição secular, de teor mais especificamente religioso, bem como textos pertencentes à chamada literatura de cordel. No programa do festival a orientação de idade recomendada diz que é para maiores de 12 anos, mas eu penso que isto está mais virado para adultos. Por vezes pensamos que marionetas e crianças são sinónimos e…qual nada!
Os seus personagens carismáticos são o Padre Chancas, representante da autoridade eclesiástica, e o Mestre Sala, o mestre de cerimónias, que por tradição tem uma moca, com a qual castiga ou abraça o Padre, enquanto o mesmo prega.
Podem ver uns minutinhos da representação.
– Sexta, 29 de maio “TitiriNoite ”. Auditório da Xunqueira “O Quadro de uma família”, da companhia Pigmalião Escultura que Mexe. (Brasil). A lotação é limitada para 80 pessoas. Tem um preço de 3 euros.
O grupo de teatro de bonecos de Belo Horizonte vem ganhando espaço no velho continente apresentando-se e ministrando ateliês desde 2011. Tal como acontecia com o mitológico Pigmaleão, eles parecem ter verdadeira paixão pelas marionetas que fazem, que por vezes são já um espetáculo propriamente. Nas bases da companhia há uma vertente conceptual e filosófica muito forte: visam criar uma ilusão cénica que leve à reflexão de temas quotidianos. Podem ver alguns dos seus trabalhos neste canal do Youtube.
Na página da companhia aparecem umas breves linhas sobre a peça: “Certos de serem uma família, os componentes desse quadro posam já automaticamente eternizados. Todas as análises que serão feitas sobre cada um deles tornarão mais clara a sua compreensão. No momento basta observá-los individualmente. ”
“O quadro de uma família” pode ser visto às 20.30-21.00-21.30-22.00-22.30. A duração não é para deixar ninguém com fadiga: 15 minutos. É uma cena curta.
Também nessa mesma sexta podem ver de novo “Bonecos do Santo Aleixo” às 21h no Auditório do Piñeiral.