Ari(t)mar 2019

Isto é já amanhã, amigas. Um dos eventos mais importantes a nível lusopata e esta que escreve não vai poder lá estar. É com grande pena (de mim mesma) que escrevo este artigo.

É escusado dizer o que é o Ari(t)mar, isto já toda a gente (que presta) sabe. Música e poesia das duas margens do Minho, unidas e entranhadas.

Cabe a mim fazer de apresentadora neste artigo e falar da gala e dos premiados. Lá no Auditório da Galiza, o mestre de cerimónias será este ano o Carlos Blanco, portanto, já sabem que a dose de humor está garantida. Realmente é um dos grandes ingredientes do evento.

O prémio à embaixatriz da amizade Galiza e Portugal é para a nossa Uxia, que tanto merece depois de anos como capitã do Cantos na Maré, festival que deu a conhecer tantas bandas lusófonas na nossa terra. Muitos parabéns, Uxia!

E da Uxia passamos a outras duas mulheres premiadas na categoria de melhor poema. Não poderia ter mais orgulho em falar neste artigo de tão bons referentes femininos. Da nossa parte está a Susana Sanches Arins, que a sinto “mais da nossa parte” do que nunca, obviamente por muitas questões, uma delas a ortográfica. A Susana ganha com Isso é o amor. Este é um ano de prémios para ela. E mais que merece!

Da parte portuguesa temos a Marta Chaves, que ganha com o poema Fachada. Podem ler uma entrevista à autora nesta ligação.

Na cena musical a seleção musical dos finalistas não foi muito arrojada (tradição e pop). Digo sempre, salvo exceções raras, a música que aparece não é muito representativa daquela que passam nas rádios portuguesas. Este ano temos às galegas Tanxugueiras com Que non mo neguen, com um videoclip bem fixe que podem ver aqui.

Do lado português ganharam Os azeitonas com Efeito do Observador. Eu tenho um fraquinho por eles há tempo. Quem és tu, miúda é uma dessas músicas que me acompanham.

O clipe de vídeo da canção premiada também é desses que vale a pena ver pela qualidade estética. Altíssima qualidade, já agora.

Uma vez já ganhou o rap. Quando poderá haver espaço para kizomba, kuduro, trap…? disso também temos na nossa língua.

Aqueles e aquelas afortunados têm um encontro amanhã, às 21h no Auditório da Galiza. Ari(t)mem!

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As músicas do aRi(t)mar

Temos uma nova edição do certame aRi(t)mar por descobrir. Há uns dias foram anunciadas as primeiras melhores músicas de 2018, sobre estas o público terá de fazer uma seleção.

Podem ouvir todas as canções, ver os vídeos e votar nesta ligação. Ouçam!!! Têm até 20 de março para votarem e vão entrar no sorteio de livros. Escolham sabiamente, que isto é quase como Eurovisão.

Se quiserem mesmo levar as canções consigo podem fazer se tiverem a app do Spotify no telemóvel. O Uxio Outeiro criou esta lista e acho muito prático.

Vou falar-vos da seleção de músicas portuguesas. Quanto à seleção de estilos, vão ver que domina a pop. Sinto falta doutras opções artísticas (kizomba, kuduro…), mas acho que este conjunto de canções é um bocado mais representativo da música atual portuguesa, mais representativo do que outros anos.

É assim: se quiserem saber da minha opinião, continuem a ler. Se acharem que a minha opinião é uma bela merda, querem ser objetivos e não estarem condicionados por mim…façam stop.

  • António Zambujo, Sem palavras. A canção tem aquela coisa clássica do amor. Para mim não é das melhores do festival, nem das melhores do autor.
    Mas por cada mulher/ Que é só feita de amar/ E nasceu numa flor/ No jardim que tu lavras/ Há um homem qualquer/ Qua aprendeu a falar/ E morrendo de amor/ Acabou sem palavra ” Por outro lado, o António Zambujo já conhece a Galiza, visitou Compostela várias vezes e se um dos atrativos da gala é vermos os premiados ao vivo…
  • Carolina Deslandes, Avião de papel. Esta é daquelas canções que passam a toda hora na Rádio Comercial. Carolina Deslandes e Rui Veloso interpretam a duo esta música que também fala de amor. É uma canção sentimental, mas não acho enfastiante.
    Fiz-te um avião de papel/ Daqueles das cartas de amor/ Pra voarmos nele quando o mundo é cruel/ E não há espaço que chegue pra dor
  • D.A.M.A, Nasty. Eu adoro este vídeo e não consigo não dançar quando passam isto na rádio. D.A.M.A é a sigla de “deixa-me aclarar-te a mente, amigo”. Realmente a canção tem uma letra fácil, dessas de ritmo contagiante. Podemos dizer que é das músicas mais eurovisivas (em todos os sentidos possíveis) do certame.
    Qual é a tua conversa, eu sei que tu vens mudar-me a cabeça/ Para me pôr nas nuvens/ Mas é preciso que eu deixe, mas é preciso que eu deixe
  • Luísa Sobral, O melhor presente. A fama é uma coisa engraçada. Luísa Sobral era uma estrela famosa em Portugal, o seu irmão, Salvador, era conhecido por ser o irmão da Luísa e agora as coisas mudaram. A compositora de Amar pelos dois criou desta vez uma canção para explicar ao filho mais velho a chegada de um novo irmão. A Luísa sempre sabe dar no coração das pessoas: E no meu colo sempre haverá espaço pra dois/ que o colo de uma mãe aumenta quando chega alguém/ por mais que ainda não entendas posso prometer/ que este é o melhor presente que irás receber
  • Márcia, Tempestade. Transborda otimismo esta música. Dançar, deixar-se estar, voar. Eu tinha a Márcia como uma artista de um único registo e, é claro, estava completamente enganada. Esta é uma das minhas apostas. Dança o teu azar/ Enterra-o por aí/ Vem passar por dentro/ Da tempestade/ Lança-te a voar/ Nada como abrir/ As asas ao vento/ E aprender a cair
  • Mariza, Quem me dera. Também muito ouvida nas rádios portuguesas. A Mariza é a dama da canção portuguesa. Esta pode ser a canção, se quiserem, mais “de raiz”. Contudo, penso que se parte do espetáculo é trazer o artista para cantar…a Mariza já nos visitou inúmeras vezes também. É como o caso do António Zambujo.

Esta é também uma canção de amor: “Quem me dera/ Abraçar-te no outono, verão e primavera/ Quiçá viver além uma quimera/ Herdar a sorte e ganhar teu coração”

  • Os azeitonas, Efeito do observador. Tive uma época em que gostava muito dos Azeitonas. Depois perdi interesse e agora parece que voltei a achar piada. A letra dos Azeitonas tem uma inspiração, parece, no Carl Sagan: “Somos todos iguais/ Lá no fundo/ Pó de estrela e nada mais”
  • Os quatro e meia, A Terra gira. Simplesmente amo. Amo esta música. Quero mesmo que ganhe. Digo isto abertamente. O ritmo, chamem-me doida, é como se me ajudasse a fazer planos, a querer empreender projetos. A letra faz-me muito pensar, tem um toque intimista e leva-me a uns pensamentos recorrentes na minha vida: a pouca possibilidade de decisão que temos, mas a grandeza que é ser-se sonhador/a. “A terra gira em contramão/ Ficamos tontos sem direção
    Corremos até nos faltar o ar/ E a vida vai ficando para depois/ E continuamos os dois a sonhar
  • Sérgio Godinho, Grão da mesma mó. Sérgio Godinho dispensa qualquer apresentação. Ele é a música portuguesa, é um histórico como o Rui Veloso. A música candidata aos prémios está carregada de filosofia e elementos de repetição que nos levam a pensar na estaticidade, imobilismo da vida: “E as palavras tornam-se esparsas/ Assumes/ Fazes que disfarças/ Escolhes paixões, ciúmes/ Tragédias e farsas/ E faças o que faças/ Por vales e cumes/ Encontras-te a sós, só/ Grão a grão/ acompanhado e só/ Grão da mesma mó/ Grão da mesma mó”
  • Valas, Estradas no céu. Um bocado de rap não faz mal e com a voz da Raquel Tavares isto ganha. Para mim é uma canção com muita força, mas já sabem que tenho um fraquinho por rap e não posso ser objetiva. Gosto muito da combinação de vozes que nos dá esta música. “Eu vejo estradas no céu/ Que me levam sempre a ti/ Sou tua e tu és meu/ Lugar onde sou feliz”

Agora estou à espera dos poemas, estou em pulgas!!