Fernando Gebra e Alfredo Guisado

12417934_768481933257855_6158641234762554685_nHá pessoas que conseguiram unir a Galiza e Portugal culturalmente, um deles foi Alfredo Guisado.

Fernando Gebra conseguiu também unir três realidades culturais: Portugal, Brasil e a Galiza. O seu trabalho como investigador é minucioso e impecável, nestes dias temos a sorte de tê-lo em terras compostelanas.

Fernando de Moraes Gebra é licenciado em Letras Português/Francês na Universidade Estadual Paulista (UNESP) (2002); Mestre em Letras, área de Estudos Literários, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) (2003); Doutor em Letras, na área de Estudos Literários, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) (2009), com Tese intitulada Identidades intersubjetivas em contos de Mário de Andrade. Atualmente, desenvolve investigação no nível de Pós-Doutoramento em Literatura Portuguesa, acerca dos “esquecidos” da Orpheu e disto nasce o seu interesse pela figura de Alfredo Guisado.

Esta não é a primeira estadia do investigador brasileiro na Galiza, mas sim a primeira vez que aparece entre estas linhas. Esperamos que não seja a última.

Conversamos com ele…

Lusopatia: O que te levou a vir à Galiza?
Fernando Gebra: Como sabes, sou professor na área de Teoria Literária e Literaturas de Língua Portuguesa, na Universidade Federal da Fronteira Sul, cuja sede – que é onde eu trabalho – se encontra no município de Chapecó, Estado de Santa Catarina. Além dos trabalhos no curso de Licenciatura em Letras – Português e Espanhol, atuo no Mestrado em Estudos Linguísticos, na área de Práticas discursivas e subjetividades. Recentemente, a UFFS implementou um programa de capacitação para os seus docentes, para que possamos ter condições de implementar programas de Doutoramento altamente qualificados. Postulei minha candidatura no final de 2014 e, em 23 de Março de 2015, fui contemplado com uma licença sabática de onze meses para desenvolver uma investigação de Pós-Doutoramento na Universidade de Lisboa.
Meu plano de trabalho centra-se nas poéticas dos autores que eu chamo os “esquecidos” de Orpheu – Alfredo Pedro Guisado, Luís de Montalvor e Ângelo de Lima. Como se sabe, Orpheu é uma revista literária que tanto escândalo provocou na provinciana sociedade lisboeta de 1915, por conta das suas propostas estéticas de renovação da poesia portuguesa. Entretanto, há que se deixar muito claro que Orpheu não é o órgão do Modernismo em Portugal. Em vários textos, Fernando Pessoa, sistematizador de muitas das correntes estéticas de princípios do século XX, comenta que Orpheu é “a soma e a síntese de todos os movimentos literários modernos”. Desde há muitas décadas, a grande estudiosa pessoana Teresa Rita Lopes chama a atenção para a carta que Fernando Pessoa escreveu ao poeta Camilo Pessanha na qual ressalta que Orpheu engloba tendências que vão do Ultrasimbolismo ao Futurismo, o que quer dizer que nessa revista e nessa geração confluem estéticas mais tradicionais e estéticas mais vanguardistas. Luís de Montalvor, em texto memorialista sobre Orpheu, ressalta que, para essa geração, aplica-se o que disse Paul Valéry acerca do Simbolismo francês: “A estética dividia-os. A ética unia-os”.
Feitas essas considerações preliminares, gostaria de esclarecer o que me levou a vir à Galiza. Preciso rapidamente remontar às minhas origens familiares. Como sou bisneto de andaluzes pelo lado paterno, desde muito cedo comecei a estudar o idioma castelhano. Estava no meu íntimo o desejo de conhecer as minhas origens, relacionadas a emigrantes que, dadas as péssimas condições de vida tanto em Portugal como em Espanha, foram obrigados a deixar sua terra natal e emigrar para a América do Sul. Meus bisavós andaluzes tiveram que emigrar em condições bem precárias, no porão de um navio, e no Brasil, trabalharam na agricultura e conseguiram, depois de muitos esforços, comprar seu pedaço de terra. Uma das minhas professoras de Língua Castelhana, Sra. Carmen Telma Franco, era galega e durante a ditadura franquista, também teve que emigrar para o Brasil por causa de um dos grandes males que assola a Galiza: a concentração de terras nas mãos dos caciques. Pessoas como meus bisavós e Telma precisaram emigrar e dar “adiós ríos, adiós fontes”, como aparece nos versos de Rosalía de Castro. Ressalto que o apelido Franco de Telma não tem relação alguma com o tirano que perseguiu muitos intelectuais andaluzes e galegos e que proibiu o uso oficial das línguas galega, catalã e vasca. Um dos materiais que trabalhávamos em aula era o programa televisivo Desde Galicia para el mundo, que apresenta interessantes aspectos culturais da Galiza.
Os anos passaram-se e aquele enorme desejo de conhecer terras de Portugal e Espanha, impossível de realizar-se durante muito tempo por razões de ordem económica, tornou-se uma realidade em 2012, quando estive pela primeira vez em Portugal. Foram necessários mais alguns anos para que eu pudesse finalmente conhecer a Andaluzia, terra dos meus antepassados, e a Galiza, que sempre me causou fascínio.
Durante minhas investigações de Pós-Doutoramento, chamou-me atenção o facto de Alfredo Guisado fazer muitas referências à Galiza, para além do seu poemário Xente d’aldea (1921). Em Rimas da noite e da tristeza (1913), que costuma ser lido pelos críticos como mera obra de juventude ou poemário de aspectos rústicos e costumbristas, pude encontrar vários poemas que fazem referência à “terra onde nasceram os meus pais”, à “terra querida”. Nas cartas de Alfredo Guisado a António Ferro e a Augusto Cunha, arquivadas na Fundação António Quadros, em Rio Maior, o poeta lisboeta filho de galegos da aldeia de Pías descreve suas viagens de férias por paisagens galegas. Numa dessas cartas a Augusto Cunha, afirma que a “Galiza e bem assim o povo daqui, têm extraordinárias semelhanças com os nossos compatriotas”. E, recentemente, a publicação de Relações intersistémicas no espaço cultural ibérico: O caso da trajetória de Alfredo Pedro Guisado (1910-1930), do professor da Universidade do Minho, Carlos Pazos Justo, trouxe-me informações históricas relevantes para a reunião das publicações que Guisado deixou em vários periódicos galegos, nomeadamente El Tea, que se conserva na Biblioteca Municipal de Pontearêas. Precisava, pois, manejar todos esses dados e compreender com mais propriedade os diálogos interculturais Portugal e Galiza.

L: Conhecias, a priori, alguma coisa?
FG: Os conhecimentos que eu tinha da Galiza remontam às aulas de Língua Castelhana com a professora galega Carmen Telma Franco. Se não estou enganado, ela era natural de Lugo. Como toda minha formação universitária na Licenciatura, no Mestrado e no Doutoramento foram em Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa, da Galiza pouco sabia. Conhecia apenas o elementar: as construções arquitetónicas feitas com granito, a história do Apóstolo Santiago e do caminho de Santiago de Compostela, o simbolismo das peregrinações, a importância da pesca como actividade comercial. Na parte literária, além das cantigas medievais, só tinha lido dois escritores galegos: Valle-Inclán, nomeadamente sua peça escrita em castelhano, Luces de bohemia, e um e outro poema de Rosalía de Castro, presentes em livros didáticos de Literatura Espanhola. Posso dizer, com toda a certeza, que foi Alfredo Guisado quem me abriu as portas da Galiza. Para entender esse autor fundamental para as literaturas portuguesa e galega, resolvi fazer minha peregrinação por terras galegas, que se iniciou em Vigo, continuou na Corunha, seguiu a Lugo e desembocou em Santiago de Compostela. De certa maneira, saindo de Lisboa, fiz o meu caminho de Santiago no plano artístico e cultural.

L: Cumpriram-se as tuas expectativas?
FG: Como dizia, na minha primeira viagem à Galiza, ocorrida em agosto de 2015, estive em Vigo, Corunha, Lugo e Santiago. Em cada uma dessas cidades, conheci vários acervos museológicos, como a Pinacoteca de Vigo, o Museu Provincial de Lugo, o Museu de Belas Artes da Corunha e o Museu Catedralício de Santiago de Compostela. Como eu tinha planeado permanecer mais dias no meu destino final, Santiago de Compostela, procurei na internet informações sobre escola de idiomas para estudar Literatura Galega. Interessei-me pela proposta pedagógica de Lorca Institute – além do que o nome Lorca me remeteu directamente a um dos meus dramaturgos favoritos, Federico García Lorca. Em poucas horas, após o primeiro contato telefónico com os responsáveis pela escola de idiomas quando eu ainda estava em Vigo, recebi uma resposta muito atenciosa da direção da escola a propor-me um programa de estudos de Literatura Galega muito bem formulado. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que foi muito satisfatório ter feito esse curso, tanto que dei sequência a essa formação em setembro, quando tive que regressar a Galiza para poder ir a Ponteareas selecionar os textos de Alfredo Guisado no jornal agrarista El Tea. Na minha primeira vinda à Galiza, tinha feito uma investigação minuciosa nos periódicos A Nosa Terra e Nós, arquivados na Real Academia Galega. Recomendo essa instituição a todos os investigadores que se interessem por Literatura Galega, pois eles dispõem de um acervo considerável e as pessoas que trabalham ali são muito solícitas.

L: Como foi o teu encontro com a literatura galega?
FG: Posso considerar o meu primeiro encontro com a Literatura Galega no meu ensino liceal, nas aulas de Literatura Portuguesa, quando estudámos as cantigas medievais, entretanto, o encontro mais apaixonado deu-se com a leitura do poemário Xente d’aldea, de Alfredo Guisado, e com pequenos contos de Castelao estampados no periódico A Nosa Terra. Com as aulas de Literatura Galega no Lorca Institute, pude ler e estudar mais profundamente as obras de Rosalía de Castro, Curros Enríquez, Eduardo Pondal, Ramón Cabanillas, Castelao e Vicente Risco. Consegui perceber bem as estruturas linguísticas do Galego e hoje, considero-me um leitor fluente de Literatura Galega. Posso dizer que a Literatura Galega, sobretudo a obra de Eduardo Pondal e Ramón Cabanillas, fez-me entender com mais propriedade a poética e a filosofia do poeta português Teixeira de Pascoaes. Recentemente, apresentei um trabalho no Colóquio Internacional do Triênio Pascoalino, organizado pela Universidade de Lisboa, que se intitulou “Arte de ser Galego: ecos de Teixeira de Pascoaes na poética de Alfredo Guisado”. Nesse trabalho, examino a recepção crítica de Pascoaes na imprensa galega, nomeadamente pela Xeración Nós, e os ecos da filosofia da Saudade no discurso de Ramón Cabanillas “A saudade nos poetas galegos” e no livro Xente d’aldea, de Alfredo Guisado.
L: Alfredo Guisado e a Xeración Nós. Há alguma coisa que os galegos e galegas devamos conhecer melhor e reivindicar?
FG: Não há como ler autores como Alfredo Guisado, Rosalía de Castro, Curros Enríquez, Ramón Cabanillas e Castelao e ficar indiferente à situação de periferia que os sucessivos governos espanhóis querem colocar a Galiza. É inconcebível o facto de o ditador Francisco Franco, sendo galego, ter proibido o uso oficial da sua língua pátria. É revoltante a situação social de tantos galegos que tiveram que deixar suas terras, abundantes em recursos naturais, por conta de altas cobranças de impostos empreendidas por políticos locais, os caciques. Mais lamentável ainda é a situação que tenho presenciado sobretudo nas grandes cidades da Galiza: muitos galegos não sabem falar o seu próprio idioma; usam a língua do outro, língua que lhes foi imposta durante séculos de dominação castelhana.
Destaco o discurso de Alfredo Guisado quando eleito Presidente da Associação de Agricultores da Aldeia de Pías: “Los hijos, los verdaderos hijos, aquellos que la acarician, que oyen viejas leyendas en torno de las lareiras y saben cantar canciones en las esfolladas, aquellos que lloran cuando ella llora, que ríen cuando ella ríe, tienen que partir para tierras estrañas, en busca de sustento, en procura del dinero que les permita saciar esos otros hijos bastardos, degenerados y malditos que se llaman caciques”. Ao ponderar essas palavras, sentimos seus ecos nos dias de hoje e com tanta gente desempregada, ao passo que muitos políticos se encontram em situações bastante confortáveis. Para onde vai o dinheiro gerado com o trabalho dos verdadeiros filhos desta terra? O destino dos recursos gerados com o trabalho de muitos costuma certamente parar nas mãos de poucos, principalmente de grandes empresários e políticos corruptos.
Há algo importante para contar sobre a família de Alfredo Guisado. Quando seu pai António Venâncio Guisado emigrou a Lisboa, os seus avós maternos já tinham para lá emigrado e administravam o restaurante Irmãos Unidos, palco dos grandes projectos estéticos do grupo de Orpheu. De Lisboa, António Venâncio e o jovem Alfredo mantinham importantes laços com a aldeia de Pías. Alfredo Guisado fez parte do movimento agrarista e militou no jornal El Tea, dirigido por Amado Garra, a favor de uma justa distribuição de terras e de uma diminuição do poder dos caciques. O autor de Xente d’a aldea ocupou importantes cargos nos campos políticos português e galego, sempre em defesa dos ideais democráticos.
No caso da Xeración Nós, assim como Alfredo Guisado, seus membros, com exceção de Castelao, tinham uma situação económica relativamente cómoda. Teoricamente, poderiam perfeitamente permanecer fechados nas suas torres de marfim, sem se preocupar com questões da identidade, da cultura, da política e da sociedade galegas. Ser-lhes-ia muito mais cómodo. Entretanto, a pena associou-se à espada, a luta por um ideal que depois foi inscrito no Partido Galeguista. Esse ideal consistia em conhecer com profundidade os vários campos do saber relacionados à Galiza e provar que a Língua Galega podia ser utilizada em todos os campos do saber. A Xeración Nós agrupou uma diversidade de áreas que precisavam ser investigadas, como a etnografia, a arqueologia, a história, o desenho, as artes plásticas. Tal como Orpheu queria atualizar a inteligência artística criadora e continuar o legado deixado por uma tradição que estava a ser mumificada pelos académicos, o grupo Nós também tinha grandes preocupações culturais relacionadas com a identidade galega, sem perder de vista a conjuntura universal.
Considero fundamental que galegos e galegas se conheçam, que compreendam a sua História e o silenciamento identitário imposto durante os séculos escuros e também durante o regime franquista. Para se ter vez e voz numa sociedade opressora, faz-se necessário conhecer todas as bases históricas. É necessário que se invista na formação de professores de Língua Galega para que todas as crianças nascidas na Galiza possam aprender o idioma dos seus antepassados.

L: Achas que a literatura galega deveria ser mais divulgada no mundo lusófono?
FG: Para já, gostaria de manifestar minha tristeza quando percebi que não houve em Portugal reedições da produção literária de Alfredo Guisado, obra que abrange um arco temporal que vai de 1913, com o poemário Rimas da noite e da tristeza, até 1974, com o livro infanto-juvenil A pastora e o lobo e outras histórias, além da edição póstuma coordenada por Fernandes Camelo e intitulada Tempo de Orpheu II. Pensava que esse esquecimento era privilégio das editoras portuguesas. Estas parecem apenas enxergar Fernando Pessoa. Além disso, certos investigadores, bolseiros profissionais, levam anos a procurar inéditos no espólio pessoano – com tudo pago, naturalmente, pelos governos de seus países – e somente o fazem pela vaidade de publicar um inédito do poeta dos heterónimos. Dessa forma, inflaciona-se o mercado pessoano, que deixa à sombra outros grandes poetas coetâneos e membros do mesmo grupo.
No caso da Literatura Galega, acho lamentável uma literatura tão importante ser apenas conhecida na Galiza e, quando muito, em Universidades que promovem a cultura galega. As relações interculturais com Portugal precisam ser ampliadas, a começar pela melhoria dos transportes que ligam Porto a Vigo: são apenas dois horários diários e comboios que parecem ser da época de Franco. Com relação ao Brasil, tenho percebido que há investigadores que optam por desenvolver trabalhos de Doutoramento e Pós-Doutoramento na Universidade de Santiago de Compostela, o que lhes possibilita conhecer mais a fundo a cultura galega e a divulgá-la no Brasil. Todavia, as relações interculturais não se fazem apenas com boas intenções de intelectuais sérios. Percebo, com grande pesar, que ainda falta da parte dos governos brasileiro e português essa aproximação cultural com Galiza, por meio de mais investimentos económicos nos setores culturais. Sobre o governo brasileiro, prefiro nem entrar em detalhes, pois todas as pessoas de bom senso já perceberam a falácia que é esse partido que se diz ser “dos trabalhadores” e que ocupar a cadeira presidencial há treze anos, sustentado por um discurso demagógico que reivindica ter possibilitado que a maior parte da população tivesse acesso à Universidade. Todos sabemos que muitos estudantes conseguem o acesso ao ensino superior por conta de uma política de cotas sociais. Uma educação para todos estaria bem, mas não é essa a questão que se coloca. O grande problema reside no como muitas pessoas ingressam nas Universidades. Ao invés de haver investimento na educação básica, muito deficitária no Brasil há mais de três décadas, os governos optam pela solução mais fácil: baixar o nível de exigência de ingresso no ensino superior para gerar números de ingressantes nas faculdades.
Poucos são os dirigentes políticos bem intencionados. Quando esteve no poder legislativo em Lisboa na década de 1920, Alfredo Guisado foi um exemplo dessas pessoas bem intencionadas, que alimentou vários projetos de parcerias entre Portugal e Galiza, nomeadamente a dos jogos florais galaico-portugueses. Como Vereador da Câmara Municipal de Lisboa, o autor foi responsável pela revitalização de espaços públicos lisboetas, pela manutenção da memória identitária portuguesa, com a atribuição de nomes de escritores a várias ruas, e também por ter evitado que grandes escritores ficassem na vala comum de cemitérios abandonados. Alfredo Guisado foi um grande difusor cultural. Dividido entre duas culturas, como atesta o poema “Duas terras”, do primeiro poemário, o lisboeta filho de galegos sempre lutou por ideais democráticos tanto na Galiza como em Portugal.
L: Falarás esta semana na livraria Ciranda. O que achas do projeto?
FG: Achei genial o projeto da livraria Ciranda. Estive lá apenas uma vez, com um pouco de pressa. Apesar de ter ido lá num dia em que dispunha de pouco tempo, pude conhecer o projeto e pude ver o acervo. Confesso ter saído de lá muito satisfeito. Noto, com muito pesar, que a Língua Portuguesa não goza de uma situação de prestígio nos meios académicos. Como pode uma literatura tão rica, complexa e diversa como a dos países lusófonos, ter recebido apenas um prêmio Nobel? Verifiquei em alguns colóquios e publicações em outras partes de Espanha que os trabalhos tinham por norma ser apresentados em castelhano, inglês, francês ou italiano. E por que não em português? Por que o italiano, que é uma belíssima língua, naturalmente, com uma tradição artístico-cultural riquíssima também, obtém mais prestígio que o português? São questões que me fazem pensar que falta um órgão sério de difusão cultural. Até que ponto o Instituto Camões e o Itamaraty realmente promovem a internacionalização do idioma? Iniciativas como a da livraria Ciranda são louváveis, pois possibilitam que os galegos conheçam as produções literárias feitas em Portugal, Brasil e países africanos de língua portuguesa.

L: Também contamos contigo para uma palestra na USC…
FG: Recebi também um convite do professor Carlos Quiroga para ministrar uma conferência na USC. Na livraria Ciranda, abordarei a recepção da obra de Alfredo Guisado na Galiza e os diálogos estabelecidos com a Xeración Nós, além de comentar os ensaios que o autor estampou nas páginas de República acerca da Literatura Galega. Já na USC, a ideia é verificar os ecos da filosofia da Saudade de Teixeira de Pascoaes no discurso de Ramón Cabanillas, “A saudade nos poetas galegos”, no ensaio “O saudosismo e o idealismo”, de Xaime Quintanilla, e no poemário Xente d’a aldea, de Alfredo Guisado. O construto ideológico e filosófico pascoalino foi um dos pilares da revista A Nosa Terra. A Saudade, lida simultaneamente numa dimensão de recordação do passado e esperança de um futuro, deu alicerces para que essa notável geração de artistas galegos reivindicasse o direito de expressar-se na sua língua e de constuir uma Galiza soberana.

 

 

Hoje, às 20h na livraria Ciranda. Não percam!

 

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